O Campeonato Brasileiro 2025 já começou e, com ele, cresce o número de brasileiros que apostam nos jogos da Série A. O mercado de apostas esportivas tem se expandido rapidamente, mas, com esse crescimento, surgem preocupações sobre os impactos financeiros para os jogadores.
O estudo “O impacto das apostas esportivas no consumo”, da Strategy&, consultoria estratégica da PwC, aponta que o volume de apostas no Brasil aumentou 89% ao ano entre 2020 e 2024, com um desembolso estimado entre R$ 60 bilhões e R$ 100 bilhões somente em 2023. Atualmente, 18 dos 20 clubes têm uma casa de apostas como patrocinadora master, com seus logotipos estampados no centro do uniforme. O Red Bull Bragantino e o Mirassol são as exceções.
“A facilidade de acesso às plataformas de apostas, combinada com o apelo emocional dos jogos e dos times e a falta de controle financeiro, tem levado muitos brasileiros a gastarem além de suas possibilidades, acumulando dívidas e comprometendo o orçamento familiar”, destaca Adriana de Arruda, psicanalista e planejadora financeira especialista em gestão financeira familiar.
Quando a diversão se transforma em problema
Apostas podem estimular um comportamento compulsivo, semelhante ao vício em jogos de azar. “A ilusão de ganhos fáceis e a sensação de quase vitória incentivam apostas sucessivas, levando muitos a recorrer a cartões de crédito, empréstimos e cheque especial para continuar jogando”, alerta Adriana de Arruda.
Segundo a pesquisa “Panorama Político 2024: Apostas esportivas, golpes digitais e endividamento”, do Instituto DataSenado, 42% dos brasileiros que apostam regularmente estão endividados, com contas atrasadas há mais de 90 dias. O levantamento mostra ainda que 20,3 milhões de brasileiros acima de 16 anos já realizaram apostas esportivas, o que representa 13% da população nessa faixa etária.
O estudo também revela que 32% dos apostadores estão desempregados ou fora da força de trabalho, o que reforça a preocupação de que muitos enxergam as bets como uma alternativa de renda — um erro que pode gerar consequências financeiras graves.
Para a psicanalista e planejadora financeira, é fundamental que os apostadores tenham consciência dos riscos envolvidos. “As apostas não devem ser encaradas como uma fonte de renda, nem uma forma de investimento. O problema começa quando a pessoa gasta o pouco dinheiro que tem e compromete suas finanças pessoais”, explica.
Impacto nas finanças pessoais e familiares
O endividamento com apostas não afeta apenas o jogador, mas também sua família. Dívidas escondidas, atrasos no pagamento de contas essenciais e conflitos conjugais são algumas das consequências enfrentadas por quem perde o controle.
“O problema se agrava quando a pessoa tenta recuperar as perdas apostando valores ainda maiores, acreditando que uma grande vitória está próxima – algo que raramente acontece”, explica Adriana de Arruda.
Outro ponto de atenção é a influência das bets sobre os jovens. Com a publicidade massiva no futebol e a facilidade de acesso às plataformas digitais, adolescentes e jovens adultos entram nesse universo cedo, muitas vezes sem consciência dos riscos envolvidos.
Regulamentação e educação financeira
Diante desse cenário, o Brasil tem avançado na regulamentação das apostas esportivas, impondo regras mais rígidas para as empresas e aumentando a transparência do setor. Entre as medidas propostas, estão a exigência de licenças para operadoras, ações para coibir fraudes e a destinação de recursos para campanhas de conscientização.
No entanto, só a regulamentação não basta. Para Adriana de Arruda, a educação financeira é fundamental para evitar que as apostas causem danos financeiros. “É essencial que os jogadores estabeleçam limites de gasto, entendam que ganhos não são garantidos e jamais utilizem dinheiro destinado a necessidades básicas”, orienta a especialista.
Evitando dívidas com apostas esportivas
Para aqueles que já têm o hábito de apostar, mas desejam evitar prejuízos financeiros, algumas estratégias podem ser adotadas. Confira!
- Defina um orçamento: estabeleça um limite mensal para apostas e nunca ultrapasse esse valor;
- Evite usar o crédito: não utilize cartões de crédito, cheque especial ou empréstimos para financiar apostas;
- Acompanhe seus gastos: mantenha um registro detalhado do quanto está apostando e do retorno obtido;
- Não aposte sob pressão emocional: evite apostar em momentos de estresse, euforia ou frustração com o seu time do coração;
- Busque ajuda se necessário: caso perceba que o hábito está saindo do controle, procure apoio de um especialista em saúde mental ou educação financeira.
O crescimento das apostas esportivas no Brasil é um fenômeno irreversível, mas os apostadores devem estar cientes dos riscos envolvidos e tomar medidas para proteger suas finanças. A conscientização e a educação são as principais ferramentas para evitar que o entretenimento se transforme em um problema financeiro sério.
Por Letícia Carvalho