O vício em jogos de apostas é um problema crescente na sociedade moderna, impulsionado pelo fácil acesso às plataformas online. Esse comportamento compulsivo pode afetar diversas áreas da vida, como o desempenho escolar ou profissional, os relacionamentos interpessoais, a saúde mental e física, além de causar isolamento social e dificuldades financeiras.
O Brasil tem, aproximadamente, 11 milhões de pessoas com sintomas de dependência em jogos de apostas, de acordo com pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Além disso, um levantamento da 8ª edição do Raio-X do Investidor Brasileiro, feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em parceria com o Datafolha, indica que 23 milhões de pessoas fizeram alguma aposta nas “bets” em 2024, o que representa 15% da população acima de 16 anos.
Prejuízos das apostas online
Reconhecer os sinais de uma compulsão por jogos pode ser desafiador, tanto para os indivíduos quanto para suas famílias. A Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) mostra que o mercado regulado de apostas esportivas pode movimentar R$ 20 bilhões no Brasil este ano. Enquanto isso, 12% das famílias brasileiras buscam nas apostas uma maneira de aumentar o orçamento mensal, segundo conclusões do estudo Consumer 360º da NielsenIQ.
“Esse é um dado extremamente preocupante, porque quem mais gasta com os jogos são pessoas com menos recursos e muitas vezes vulneráveis. E que na expectativa de uma renda extra com os jogos, comprometem seus orçamentos pessoais e chegam a perder, literalmente, o dinheiro do supermercado”, comenta Cristiano Costa, psicólogo clínico e organizacional e diretor de conhecimento da Empresa Brasileira de Apoio ao Compulsivo (EBAC).
Ainda que contestada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), em uma nota técnica elaborada a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), no contexto de uma ação movida contra a lei das “bets” pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), outra pesquisa da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) revelou que jogos online, de forma geral, se tornaram uma das maiores causas de endividamento no país, com 63% dos apostadores afirmando que chegaram a comprometer o equilíbrio financeiro.
Quando as apostas viram compulsão
Segundo Cristiano Costa, o vício em jogos pode ser comparado a outras dependências comportamentais, como o vício em compras, em telas ou em redes sociais. “A principal característica que define a compulsão é a perda de controle. Quando o indivíduo sente a necessidade de jogar continuamente, mesmo que isso comprometa suas responsabilidades pessoais, profissionais ou sociais, estamos diante de um comportamento de risco”, alerta.
Abaixo, o psicólogo lista os cinco principais sinais de alerta para reconhecer a compulsão por jogos:
- Pensamento constante com o jogo: o indivíduo passa grande parte do tempo preocupado com os jogos, planejando as próximas sessões, jogadas ou relembrando partidas passadas;
- Aumento da frequência, duração e valores com o jogo: a pessoa sente a necessidade de jogar por mais tempo e com valores mais altos para alcançar o mesmo nível de excitação;
- Negligência de responsabilidades: quando o jogo passa a ser mais importante do que compromissos com a família, trabalho, estudos ou relações sociais;
- Mentiras e omissões: esconder o montante de valores perdidos, o tempo real gasto jogando ou negar que o hábito seja problemático;
- Sintomas emocionais e físicos: sentimentos de irritação, ansiedade ou depressão quando não é possível jogar, além de dificuldades para dormir e falta de cuidados com a própria saúde.
O papel do apoio profissional e dos familiares
É comum que as pessoas usem os jogos como uma forma de fugir de conflitos internos ou como uma forma de tentar ganhar dinheiro rápido. O problema se agrava quando isso se torna uma compulsão, prejudicando outras áreas da vida e outras pessoas também.
“Por isso, é importante buscar auxílio profissional o quanto antes, e não hesitar em contar com o apoio da família, já que muitas vezes o compulsivo não consegue enxergar o quanto o jogo está afetando sua vida, e a família pode ajudar no comprometimento com o tratamento”, conclui o psicólogo.
Por Lucas Gomes