“O missionário, um contemplativo em ação” – Por Dom Jaime Pedro Kohl
Quando falamos de espiritualidade, inevitavelmente precisamos descer até a profundeza do coração, lá onde se estrutura a mais intensa sensibilidade e a visão integral da vida.
Estamos apontando para aquela abertura universal indicada por Jesus aos seus apóstolos, quando foram enviados ao mundo todo para anunciar o Evangelho: “Descerá sobre vós o Espirito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os confins do mundo”(Atos 1,3.8).
O lugar para manter ardentes a força e a luz do Espirito Santo, o primeiro protagonista da missão, é o coração daquele que é interpelado e enviado. A Palavra que penetra “nas profundezas da pessoa” e “atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração” (Heb 4,12) infunde o fogo em brasa, que é o amor de Cristo, que nos impulsiona para anunciá-lo ao mundo inteiro.
O silêncio é a tenda que guarda o Espírito Santo, “doce hóspede da alma”, que constitui o refúgio e o amparo onde o homem jamais será desiludido.
A espiritualidade da missão permanece presente e amada, quando os cristãos, conscientes da sua vocação missionária, tem a coragem de entrar na Tenda da Reunião: “Quem queria consultar a Javé, devia ir até a tenda da reunião, que estava fora do acampamento. Quando Moisés entrava na tenda… Javé falava com Moisés face a face, como um homem fala com o amigo” (Ex 33,7-9).
É fora do acampamento (multidão, problemas, dificuldades, compromissos que a ação missionária comporta) que encontramos Deus, face a face, como um amigo, Aquele que nos chama e nos envia, com a condição de não termos perdido os seus traços misericordiosos, a sua luz que ilumina os passos e as escolhas na evangelização a nós confiada.
Deus habita no silêncio e pede que habitemos também nós com Ele, para vivermos na sua comunhão e acolhendo a sua revelação.
Nós vivemos mergulhados no barulho e é difícil despirmo-nos da multidão de presenças que moram em nós.
O silêncio é o terreno da fecundidade divina, mas não é nada fácil obtê-lo. Precisa a convicção interior da necessidade de parar e programar momentos de silêncio.
Fazer silêncio é reconhecer que somos criaturas necessitadas da presença do divino; que só Deus é o Salvador, o Consolador, daqueles que encontramos. Por mais que façamos, somos meros servidores e não salvadores de ninguém.
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório