Estrofes dos Otários – Sergio Agra
Com o pensamento em Castro Alves, in Estrofes do Solitário
Basta de hipocrisia! A hora soa…
Arranquemos as máscaras que escondem à toa
nossa trágica, verdadeira veleidade.
Que vem… Donde? De nossa infantil vaidade.
Esta atual geração rompe os limites da sensatez.
E, qual andrógino Narciso,
conecta-se no feice buque… olha os céus…
clica um enter no final
para o catálogo já saturado
e dispara um selfie de falsa alegria,
mais dois, outros cem, também mil…
No gesto desesperado,
intenta agarrar a própria alegoria
arrojando-se nas águas do rio virtual
para perecer afogado,
por sua imagem apaixonado.
É impossível — parar… volver — é morte
Só lhe resta marchar.
E mais selfies enviar.
Lalá Tamborideghy sente-se agora triste,
porém, aponta o dedo em riste
para o copo do mais puro uísque
nas tardes fagueiras de répiaus
em Ibiza, em Maiorca ou Saint Tropez,
– óh, maldita insensatez! –
na companhia de Lilian Werninghaus,
ou erguendo cálices, o champanhe a borbulhar,
com Ana Maria Marcondes Penido Sant’Anna.
Agora estávamos em Toscana,
Eu, Lalá e Lia Maria Aguiar.
Na putrefata Ilha da Fantasia,
Luiz Mauricinho está deprimido.
Enviou 33 social postsaos amigos:
“Hoje fiz sustentação oral
no Suprêmio Tribunal Federal,
perdia causa, ninguém me consolou.
Emborquei uma caixa de comprimidos,
Imipramina ouNortriptilina,
tracei uma costela minga
e a fogosa Maria Joaquina”.
Isso ele fez questão de registrar,
na mesa repleta do Tudo Pelo Social,
com três Kaisers, cinco Schins
seis Devassas até chegar ao fim,
não sem antes discursar:
“Depois morrer – que a vida está completa,
– Rei ou tribuno, César ou poeta,
Que mais quereis depois?”.
Basta escutar, do fundo lá da cova,
dançar em vossa lousa a raça nova
libertada por vós,
assim como todos os males do mundo
Pandora deixou escapar…
Dentre estes os piores,
o orgulho, a vaidade,
o narcisismo e a futilidade
dos vazios adoradores dos selfies,
como eu próprio nos dissabores
de meus versosanacrônicos,
valho-me de sórdido truque
e junto com todos eles também afundo.
Morte ao feice buque!”.