Eternamente, Brasil colônia – Sérgio Agra
ETERNAMENTE, BRASIL COLÔNIA
Áidountshpiquipórtiguiis
Diz a lenda que o dia 16 de dezembro de 1815 representou o fim do período colonial e início efetivo da História do Brasil independente. Deveria ter sido a grande notícia entre os brasileiros. Não foi! O Brasil jamais perderia sua condição de colônia.
Me disseram que eu voltei americanizada
Com o burro do dinheiro
Que estou muito rica
Que não suporto mais o breque do pandeiro
E fico arrepiada ouvindo uma cuíca
Após cortado(?) o cordão umbilical lusitano, os ingleses aqui aportaram ávidos e sequiosos (certamente ali já havia os Oldebrecht disfarçados de saxões) para a construção das primeiras estradas de ferro do Brasil. O incentivo à implementação de ferrovias no País se deu em 1828: o projeto de uma estrada de ferro deu-se com a criação de uma empresa anglo-brasileira no Rio de Janeiro em 1832, que ligaria a cidade de Porto Feliz ao porto de Santos, ambas no Estado de São Paulo. Essa ferrovia tinha por fim transportar cargas do interior para o porto e diminuir os custos de exportação. O governo imperial, no entanto, não apoiou o projeto e ele não foi levado adiante.
Disseram que com as mãos estou preocupada
E corre por aí que eu sei certo zum zum
Que já não tenho molho, ritmo, nem nada
E dos balangandans já não existe mais nenhum
Os ingleses —assim como os americanos, que desde os primórdios de sua História não pregam prego sem estopa e nada é de graça — não esmoreceram à falta do apoio preciso e migraram para os Estados do Norte.
Não é à toa porque o “dono” da metade do Maranhão (a outra metade do Estado pertence à filha Roseana), que fora batizado como José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, por entender ser bonitinho e chiquetésimo o modo como os ingleses se referiam a seu pai — “Sir” Ney — adotou o sobrenome de origem patronímica “Sarney”.
Disseram que com as mãos estou preocupada
E corre por aí que eu sei certo zum zum
Que já não tenho molho, ritmo, nem nada
E dos balangandans já não existe mais nenhum
Em 1942 reacendeu-se a “invasão” dos Estados Unidos. Com o intuito de convencer o então Presidente Getúlio Vargas para que o Brasil participasse como aliado no conflito contra as forças nazistas de Hitler, o governo americano trazia ocultos nos seus imorais escaninhos escusos projetos de “proteção” (enganem-me que eu gosto!) da Floresta Amazônica.
Mas pra cima de mim, pra que tanto veneno
Eu posso lá ficar americanizada
Eu que nasci com o samba e vivo no sereno
Topando a noite inteira a velha batucada
Nas rodas de malandro minhas preferidas
A partir dos anos 1950, as calçadas da Avenida Atlântida, em Copacabana, e da Rua Bartolomeu Mitre, no Bairro Leblon, Rio de Janeiro, e as Avenidas Paulista, São João e Rua Augusta, em São Paulo, foram invadidas, respectivamente, pelo desfile dos filhos das elites cariocas e paulistanas— verdadeiros macaquitos plagiadores—que inspirados na personagem do ator americano James Dean, no filme Juventude Transviada, se puseram a mascar chicletes de bola PingPong, sabor tutti-frutti, usar jaquetas de couro e calças Lee, importados, por supuesto!,e, aboletados no volante dos rabos de peixe conversíveis ou montados em Lambretas — veículo motorizado sobre duas rodas —, barbarizavam e encantavam as lindas, basbaques e até então virgens “marias-gasolina”,vestidas com camisetinhas de banlon e saias rodadas abaixo dos joelhos, mocassins “maria-mole” e meias soquetes que lhes evolviam até os tornozelos. Aos desassistidos dos bafos da fortuna a jaqueta de nylon e as famosas calças Brim Coringa compradas em lojas de departamentos cumpriam exemplarmente a condição de disfarçar e atenuar entre si as diferenças de classes sociais e econômicas. Já a ausência de um automóvel ou motocicleta obrigatoriamente exigia do “plêibóy” ser exímio dançarino de “róquienróieu”.
Foi então que a merda toda começou…
Eu digo mesmo eu te amo, e nunca I loveyou
Enquanto houver Brasil
Na hora das comidas
Eu sou do camarão ensopadinho com chuchu
O simpático cachorro quente passou a ser conhecido como “róti-dógui”; o prático e suculento bauru como “chiss”, carnes de churrasco como a picanha, a alcatra e a minga, causando nó na língua, com o insípido “barbequil”; barbeiro ou barbearia em “bärb?r”; tele entrega transformou-se em “d??liv(?)r?”; a hora feliz do encontro com os amigos para aplacar a sede e as saudades, regada a gelados, dourados e espumosos chopes, num rascante “hap??ou(?)r” que, para humilhar 0 descabido anglicismo faço questão em pronunciar “répiau”. A queda total de energia que a brasilidade criativa designa apagão ficou institucionalizada como “bilecáuti”.
A pandemia do Covid-19 despertou novas profissões e circunstâncias. Treinador é “couchunhhg, escritório em casa é “rômiófics” e confinamento total “läkdoun”.
Os analfabetos funcionais não apenas da língua inglesa se transformaram compulsoriamente em analfabetos da computação. Você percebeu que as operacionalizações, as tarefas de um computador e as denominações do teclado estão em inglês? Por isso, cucaracho, s?ioo in thur·tee!
Ah, não entendeu? Então vá a um Posto Ipiranga e pergunta pro Faustão.
Me disseram que eu voltei americanizada
Com o burro do dinheiro
Que estou muito rica
Que não suporto mais o breque do pandeiro
E fico arrepiada ouvindo uma cuíca…
*Carmem Miranda, in Me disseram que eu voltei americanizada
“DOURANDO A PÍLULA” DOS AGRA
Na tarde de ontem eu intentei pesquisar o site do Tribunal de Justiça do RS para me informar do andamento processual de inúmeras ações em que sou autor contra o Estado do Rio Grande do Sul. Uma dessas ações, acreditem, diz respeito à recomposição salarial em face das perdas que os servidores da Caixa Econômica Estadual tivemos quando da transposição das URV’s para o Real e que até hoje os “Capinhas-Pretas” do TJRS ainda retêm os autos em algum sórdido escaninho do Tribunal de Justiça. Já o petitório em causa própria de “Suas Excrecências”, em contrapartida, não apenas foi favoravelmente conhecido, executado, cumprido, mas imediatamente atualizados e pagos os milionários retroativos.
Como o site do TJRS estava momentaneamente indisponível, busquei o auxílio do “Dr. Google”, informando-lhe os dados para tanto necessários.
Para assombro, choque, susto e tudo o mais que se é tomado em tal situação, surgiu na tela do computador uma nordestina, de Recife. Pela foto parecia ser ainda uma jovem mulher, cujo prenome por piedosa discrição declino em dizer, Maricota Lula da Silva Agra.
De imediato transportei-me para o terraço do Carlton Hotel, local da cerimônia de premiação do Festival de Cinema de Cannes, na França, onde participei do coquetel de abertura do Congresso Internacional de Advogados. Aproximou-se então uma mulher madura e mirando meu crachá foi logo perguntando, Você é Agra, de onde? Percebi, pelo sotaque, o que se confirmou em seguida, ser a colega congressista natural do nordeste, mais precisamente da capital pernambucana como logo eu viria saber.
Com o mesmo desembaraço com que me questionou ela respondeu, Fui casada com um Agra! É tudo louco! Alguns, inteligentes, mas todos loucos!
Desnecessário dizer que o papo se encerrou naquele mesmo instante.
Agra! Todos loucos!!! Sim, inteligentes, alguns. “Loucos”, quase todos! Hoje ouso, sim, acompanhar o “voto da Relatora” pernambucana, a ex-Agra! Se alguma parentela me lê, o que duvido — sou-lhes persona non mui grata —, despreocupem-se primos, primas, periquitos, crocodilos, jararacas, etc. E, por favor, não alimentem mais o ressentimento que há tempo a mim devotam.,
Eu mesmo sou portador do Transtorno de Somatização, o que significa dizer que apresento múltiplas queixas físicas, referentes a diversos órgãos do corpo, mas que não são explicadas por nenhuma alteração clínica. Geralmente as pessoas portadoras da Síndrome de Briquet— ou TA — buscam o médico com algumas queixas, e na avaliação do profissional e no resultado dos exames clínicos nada é detectado.
Na maioria dos casos as pessoas com Transtorno de Somatização apresentam ansiedade e alterações do humor, além de poderem apresentar impulsividade, o que é o meu caso, pois agora são exatamente 03h07min e eu aqui a dissertar sobre o meu susto, o terror de ter encontrado a “parente” Maricota Lula da Silva Agra nas redes sociais.
Desligo de imediato o computador. Vá que me apareça uma Maroca Bolsonaro Agra. Alternativa outra não restará e concordar que minha parentela é de fato cega e muito louca!