Os mais iguais – Jayme José de Oliveira
PONTO E CONTRAPONTO- por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
OS MAIS IGUAIS
“Animal Farm” (A Revolução dos Bichos), romance satírico do escritor inglês George Orwell, publicado no Reino Unido em 1945 foi incluído pela revista americana Times na lista dos 100 melhores romances da língua inglesa e permanece com uma atualidade incrível até hoje. Reedições se sucedem e são avidamente disputadas por leitores à procura de entendimento do que se passa.
Os que se consideram “mais iguais” não se cansam de demonstrar a veracidade do axioma: “Todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais”.
O pedido enviado em 30 de novembro à Fiocruz pelo STF, para que sejam reservadas 7.000 das vacinas contra o coronavírus aos servidores do tribunal e do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) desencadeou uma série de pronunciamentos que se sucederam, uns contradizendo outros. O que se depreende é que foi um episódio beirando o nonsense.
Ao final prevaleceu o bom senso e o presidente do STF, Luiz Fux, no dia 27/12 encerrou o assunto, porém restaram sequelas.
“Nesses 11 anos no STF, nunca realizei nenhum ato administrativo sem a ciência e a anuência dos meus superiores hierárquicos”. (Mário Polo Dias Freitas, agora ex-secretário de Serviços Integrados de Saúde da Corte, demitido pelo presidente Luiz Fux).
Pode ser agregado como correlato um pronunciamento do repórter Marcelo Rech (Zero Hora, 2/1/2021):
“Como repórter esquadrinhei Cuba e União Soviética, duas sociedades socialistas com razoável equidade social e elevado índice de educação, mas um grau de privilégios e corrupção impensável até para padrões brasileiros”.
Mais adiante:“Não é exclusividade dos abonados, os pobres também apresentam sua faceta menos digna quando ignoram o motorista agonizante na cabina para saquear a carga do caminhão tombado. Completam a cadeia de maus espíritos que assombram o país há séculos”.
Incompreensível que a Inteligência Artificial (IA) em vez de ser saudada universalmente como a luz no fim do túnel que nos permite vislumbrar uma crescente melhoria no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) seja vilipendiada por muitos, inclusive de alto nível intelectual. Intelectuais “progressistas” despudoradamente afirmam que a História se encaminha para um aprofundamento que separa as elites da “plebe ignara”. Ignoram (ou fingem ignorar)que, no início, os melhor aquinhoados usufruem o progresso, porém, ao longo do tempo os benefícios se capilarizam e permitem aos pobres e distantes os benefícios inacessíveis sem a ciência.
Exemplos, como a Zipline, empresa americana que realiza entregas por drones levando vacinas, medicamentos e plasma congelado em Ruanda, trazendo vida e saúde para 12 milhões de habitantes e muitas empresas mais mundo afora asseguram que o nível de vida está num crescendo multilateral onde diversos países regulam trocas de produtos e serviços inexequíveis de outra forma.
Sim, a ciência melhora a vida de TODOS. Imagine uma população sem vacinas, medicamentos, transporte, empregos estáveis, lazer barato ao alcance? No Brasil, sem o acompanhamento médico-hospitalar proporcionado pelo SUS?
Sim, a sociedade apresenta aspectos diferenciados que nos permitem observar o quanto ainda nos resta avançar. Ideologias políticas e interesses eleitorais, porém, desnudam este “calcanhar de Aquiles”. O “toma-lá-dá-cá” useiro e vezeiro nas confabulações sempre que se tenta ajustar parâmetros ou distribuir cargos e benesses,deveriam envergonhar os partícipes. A última eleição para presidente da Câmara e do Senado foram exemplos execráveis dessa afronta.
Finalizando: o que precisamos, urgentemente,é eliminar a possibilidade de “os mais iguais” se considerarem merecedores de usufruir o que deve ser universal enquanto os outros… ora, pensam, os outros que se danem.
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado