SODOMA & GOMORRA NO ESPAÇO SB – Sergio Agra
SODOMA & GOMORRA NO ESPAÇO SB
Capítulo XXIV Da Série As Crônicas de Aleph
Parte I
“Nuvem Negra da Sociedade Porto-alegrense” era o apelido depreciativo que o jet set caboclo emprestara a um alpinista social que, valendo-se da confiança e das confidências dos pascácios e das volúveis socialites, conhecia-lhes os segredos inconfessáveis. “Nuvem Negra” sabia quem transava com quem, quem era amante de quem, quem sonegava o Imposto de Renda, quem se encontrava na condição de inadimplente com o recolhimento do ICMS, das falcatruas e negociatas de empresários considerados como da mais “ilibada” reputação, da orientação sexual de quem não ousava “sair do armário”. Todos queriam o fígado de “Nuvem Negra”. Com o rabo-preso em que se encontravam, restava-lhes tecer loas a mais insignificante das sandices que “Nuvem Negra” com sua voz de barítono de opereta discursava ou escrevia na coluna social que assinava num pasquim da aldeia.
Narrativa de Aleph:
Aos poucos, o grande salão do Espaço SB. foi ganhando vida. Os convidados chegavam em alegre bando. Todos — em torno de cinquenta/sessenta convidados — contavam histórias de assíduas frequências nas pistas e nas mesas do Encouraçado Butikin, nos campos de golfe do Country, nas canchas de tênis do Juvenil, na coluna social de Paulo RG quando detinham cacife para tanto.
A música ensurdecedora baldava qualquer tentativa de diálogo. As espirais da fumaça dos cigarros de nicotina e de cannabis sativa obscureciam as poucas luzes do ambiente. Nos cantos mais recônditos do salão distinguiam-se vagamente vultos de dois, três, às vezes quatro em dissimulado ato de sodomia sexual. Outros apostavam no ‘triátlon’ — absinto, marijuana e LSD. Sequer repararam que Sidy, num passe de mágica, fizera surgir um gigantesco home theater.
Na tela o conhecido ator Tony R. personificava um doente terminal no leito hospitalar e a não menos famosa atriz Fê T., travestida em sensual enfermeira, após lograr o orgasmo com o agora sem vida paciente, jazia em decúbito dorsal sobre o corpo exangue do finado. Ambos desenhavam, nitidamente, a imagem do Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci.
Nisso, a estrondosa explosão estilhaça em milhares de fragmentos a tela do home theater. Ato contínuo, o leito e os dois atores, não mais imagens virtuais, se materializaram no meio do salão.
Permaneci inerte por longos minutos ante o inusitado. Sem me questionar de onde viera tamanho atrevimento pousei suavemente minha destra sobre o joelho da extenuada enfermeira. Acariciei a coxa e com calculada lentidão alcancei=lhe os pelos pubianos caprichosamente delineados em forma de um triângulo.
Neste momento a atriz despertou e lançou um grito. Aterrorizado, retirei a insolente mão e pedi-lhe desculpas. Refeita da surpresa ela sorriu e refutou, — “Não vou lhe bater porque você não só é um afável atrevidinho, mas um simpático palhaço. E, como todos amam o palhaço…”.
Ante meu visível constrangimento, pôs-se a gargalhar convulsivamente. Vexado, saí à procura de Sidy, não sem esbarrar e tropeçar nos convivas que, estirados sobre os carpetes ‘viajavam’ pelo universo dos sonhos.
https://www.youtube.com/watch?v=8JKxOBUA3cY