Jayme José de Oliveira

PONTO E CONTRAPONTO- por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

MIGRANTES

Desde tempos imemoriais o deslocamento de pessoas em busca de locais que permitam a sobrevivência individual e em grupos se repete. Aliás, foi assim que há 200 mil anos o homo sapiens se deslocou da África, Ásia e, atravessou o Estreito de Bering, que nesse período estava congelado em razão da era glacial, formando uma ponte natural entre a Ásia e América do Norte.

Posteriormente judeus fugiram do Egito e muitos périplos ocorreram. Os humanos, sem bússola, mapas ou quaisquer artifícios técnicos povoaram ilhas na imensidão dos oceanos. Quantos pereceram? Jamais saberemos, apenas que a ânsia de expansão de seu habitat era irresistível.
Há necessidade de diferenciar migrações, quando ocorrem deslocamentos maciços – a vinda de europeus para as Américas foi paradigmática – diferente das tentativas de grupos adentrarem ilegalmente num país.

Habitantes da Ásia, América Central e do Sul, há muito tempo procuram ingressar nos Estados Unido com a cooperação de intermediários conhecidos como “coiotes”, arriscando serem interceptados e até perecerem quando atravessam o deserto. As regras se restringem a “cada um por si, Deus por todos, azar dos mais fracos”.
Leonilda Oliveira dos Santos, 49 anos, foi abandonada pelos companheiros e morreu de sede. Quantos mais sofreram o mesmo destino?

Fácil julgar na segurança do nosso lar, porém, reflita: qual seria a tua opção no meio do deserto? Como optar entre prosseguir na desesperada procura de um local onde as condições de vida se prenunciam menos angustiantes, onde se vislumbrem possibilidades para os filhos e afins poderem viver em condições menos trágicas, embora enfrentando riscos de deportação, viver em constantes sobressaltos ou permanecer para auxiliar a sobrevivência de uma companheira exaurida?

A tragédia aqui descrita permite tirar ilações. A entrada ilegal nos Estados Unidos causa reação de repúdio neste país e sofre contestações internacionais. Isto é um FATO! Porém reflitamos: Pessoas arriscam sua segurança e até sua vida para ENTRAR e RESIDIR nos Estados Unidos. São estrangeiros que em certo momento decidiram trocar sua pátria.

Movimentos opostos ocorreram na Alemanha antes da derrubada do Muro de Berlim, construído em 1961 para evitar a fuga da Alemanha Oriental para a Ocidental. Muitos perderam a vida assassinados pela guarda fronteiriça. A Rússia também impedia a emigração rumo a uma libertação junto a seus compatriotas ocidentais. Cubanos arrostavam o oceano e até tubarões para fugir da ditadura de Fidel Castro. Outros países dificultam a saída de suas fronteiras e os que assim procedem são bem conhecidos.

Este fato leva-me a conjeturar que, ao menos no imaginário da maioria, é preferível viver num país democrático apesar de não atingir, ainda, a plenitude do que almejamos mas pretendemos atingir num futuro próximo. Capitalismo selvagem não é o regime ideal, comunismo também não. Têm suas falhas e, ambos, apresentam prós e contras. Urge extrair e praticar o que de bom há em ambos e escoimar aquilo que repudiamos. Os países nórdicos, Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia nos apontam a direção, conjugam a eficiência técnica e alto nível de vida nas democracias com o ideal preconizado pelo socialismo: aproximar os mais abastados dos que labutam na base da pirâmide.

Um detalhe: LIBERDADE é imprescindível para um viver minimamente aceitável. Regimes que tolhem a LIBERDADE e ou cultuam o DEUS MOEDA não satisfazem. Midas, um personagem da mitologia grega, baseado em um rei do mesmo nome na Frígia no século VIII a.C. recebeu dos deuses o dom de transformar em ouro TUDO o que tocasse. Resultado: o alimento não podia ser ingerido quando manipulado e seus entes queridos se transformavam em estátuas de ouro.
IN MEDIO STAT VIRTUS, a virtude está no meio.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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