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Entre a história e a fantasia – Final

Bento Gonçalves da Silva, como Comandante Superior da Guarda Nacional da Província, cujos principais líderes eram estancieiros e charqueadores (sendo que muitos seus parentes e amigos), sofreu, a exemplo de Bento Manoel, algumas distorções históricas, sendo, ainda nos dias de hoje, reconhecido como herói ladrão ou um conquistador machista e ditador barato. A mini-série global, por demais romanceada, transforma-o num herói de folhetim.

Sabemos que não foi um Deus, que foi um homem normal com virtudes e defeitos, mas que correspondeu ao que dele esperaram os riograndenses e que dele fizeram, faz mais de século e meio, seu vulto maior.

É, de fato, um herói do Exército Brasileiro por sua memorável e distinta atuação na Guerra Cisplatina em 1825-28. E aí estão eloqüentes as partes de combate atestando sua significativa contribuição.

Na revolução de 35 desenvolveu o plano militar com a finalidade de conquistar Porto Alegre e derrubar o Governo da Província, representado pelo Presidente e seu suporte militar, substituindo-o por um revolucionário e assumir o controle político-militar de toda a Província.

Seus objetivos eram o de derrubar o Governo da Província, neutralizar as ações do Comandante das Armas e do Comandante da Fronteira do Jaguarão (cargo do qual ele fora demitido pelo Comandante das Armas), na oportunidade em que eles se encontravam tratando de interesses particulares, em suas estâncias. Conquistar o controle de Alegrete, São Borja, Cruz Alta e respectivas áreas de influência, sob a liderança de Bento Manoel e com o concurso do 8º BC de Linha de São Borja, ao comando do Major João Manoel de Lima e Silva (tio de Caxias), e irmão do Ministro da Guerra do Império (aliás, nepotismo nestes Brasilis não é “jeitinho” novo!); conquistar o controle político-militar de Alegrete, Jaguarão, Bagé, São Gabriel e, mais a retaguarda, Herval, Canguçu e Piratini, na Serra dos Tapes, e Encruzilhada e Caçapava, na Serra do Herval; no corte do Jacuí, Rio Pardo, importante centro provincial e Cachoeira e Triunfo; em torno de Rio Grande, ao sul, Povo Novo (terra de Netto), e ao norte Mostardas Estreito e, em torno de Porto Alegre, Guaíba (na época Pedras Brancas), Viamão e Santo Antônio da Patrulha.

Depois de consolidada a Revolução com domínio de todo o Rio Grande do Sul de então, o quadro vai alterar-se substancialmente, a partir da posse, em janeiro de 1836, do novo Presidente Araújo Ribeiro, em Rio Grande. Contou com o Coronel Bento Manuel Ribeiro para lutar pelos imperiais, o que se deu (dezembro de 1835 a março de 1837).

Porto Alegre foi reconquistada em definitivo, em 15 de junho de 1836, com a prisão de 36 líderes revolucionários. Este fato fez abortar a idéia de reconquistar Rio Grande e criou condições de apoio mútuo de Porto Alegre e Rio Grande, através das forças navais que em pouco dominaram toda a navegação interior do Rio Grande (23 de agosto de 1836).

Este fato veio agravar-se ainda, mais quando Bento Gonçalves foi preso na Ilha de Fanfa, quando se retirava do sítio de Porto Alegre, ao atravessar o rio Jacuí. Isto por insistência imprudente de Onofre Pires, desde então seu inimigo, ao ser criticado por ele, Bento.

Escudado em imunidade parlamentar Antônio da Fontoura acusou Bento Gonçalves de “general sem sorte, que teve a infelicidade, como companheira de seus passos e operações, só vencendo as batalhas de Setembrina, a retirada sobre Gravataí e ação de Arroio dos Ratos”.

Mas a campanha de desprestígio contra Bento Gonçalves também se fez sentir no seio dos próprios farroupilhas. Disso resultou seu pedido de demissão do cargo de presidente e de comandante em chefe das forças da República Rio-Grandense em luta contra o Império e, por fim, o famoso duelo com Onofre Pires da Silveira Canto, seu velho amigo e companheiro de lutas liberais.

Bento Gonçalves, entretanto, estava doente. Pobre, sem dinheiro algum, apenas com as terras que conservara em Camaquã, para lá voltou, contemplando a casa abandonada e os campos despovoados, quando teria dito a Canabarro: “Sigo para a minha pequena fazenda, unicamente com a ingente glória de achar-me o homem, talvez, mais pobre do pais.” Mas pouco duraria. Gravemente enfermo foi a Pedras Brancas (hoje município de Guaíba) em busca de seu velho amigo e companheiro, José Gomes de Vasconcellos Jardim, que ali, além de médico-prático, possuía um hospital.

Mas, nem sequer chegou a ser tratado devidamente, pois a pleurisia que se manifestara violenta, levou-o em seguida. Era o dia 18 de julho de 1847.

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