Colunistas

Os tempos mudam… Erner Machado

Eu, oriundo de uma família de pequenos proprietários rurais, o distrito e ITAPEVI, em Cacequi me vi, de repente, aos 7 ou 8 anos morando em Rosário do Sul.

Meu pai – homem eminentemente rural- não conseguiu trabalho de imediato o que obrigou minha mãe a fazer artesanato para vender e com isto manter a nossa família.

Os produtos por ela produzidos eram colchas de cama decoradas, panos de prato bordados, bonecas de pano, guardanapos de crochê feitos com esmero e com arte singulares os quais, por eu ser o mais velho dos sete irmãos era o encarregado de vender, na rua, diariamente estes produtos.

E fazia, estas vendas, no turno contrário às minhas aulas, no Patronato de Rosário do Sul, que ficava na Rua Amarou Souto, quase perto da Hípica, no caminho do Quartel.

Meus clientes eram vizinhos de nossa casa, pessoas que moraram no centro e, principalmente as mulheres da Zona do Meretrício _ (casas da Dona Isaura, do Seu Anacleto, do Dada e da Luz apagada) que se maravilhavam com a beleza dos produtos e os comprovam sistematicamente.

Ao voltar para casa, com o dinheiro suficiente para a janta e o almoço do dia seguinte a Dona Zeli, ao receber os valores me dizia: Meu filho tu estás fazendo um trabalho honesto e, por isto, Deus tem de ajudado a seres um bom vendedor mas, lembra-te , chegará o dia em que, por circunstâncias as mais variadas, não poderás obter o resultado favorável de tuas vendas.

Nesse dia, volta para casa, e vamos dar um jeito de arrumar o que comer para o dia de amanhã.

Mas lembra-te: sejas sempre um homem honesto e mesmo que passemos dias só com café preto engrossado com farinha de mandioca, não deverás nunca te apropriar de algo que não é teu.

E tenha sempre, presente que o teu trabalho, diário e constante permitirá que possamos dar a volta por cima e ter, sempre, eu, o teu pai , tu e teus irmãos teremos o que comer.

O Tempo foi passando e eu deleguei aos meus irmãos Chester, Enio, Maria Celanira, os mais velhos, depois de mim, as rotinas de vendas de artesanato e eu fui, ser carregador de areia em vagão, responsável pelo dinheiro da Banca da Jogo de bicho do seu Anacleto, cortador de lenha na lenheira do seu Ataídes e, por um lance sorte, o amigo do meu pai, o sr. Ary Josende indicou-me para eu ser continuo do Banco da Província.

E, ai, a minha vida e a vida da minha família mudou.

Aos 16 anos, já tendo acabado o Ginásio , entrei para o Colégio Comercial Visconde Mauá e aos 18 para 19 anos conclui o curso de Técnico em Contabilidade.

Nesta altura eu já era caixa do Banco da Província e lidava, diariamente, com milhares de cruzeiros de terceiros e do próprio banco e, ao fechar meu caixa, no final da tarde, sempre me lembrava da minha mãe e de seus conselhos sobre o cuidado com as coisas alheias e, se sobrava dinheiro eu contabiliza como sobras de caixa e, se falta, eu pagava do meu bolso.

Em 1969, passei em um Concurso para o Banco da Amazônia e deixei a fronteira e vim morar em Porto Alegre. No BASA, lidei com valores de alta monta, aplicando-os no mercado financeiro e dando contas, diárias, dos resultados obtidos pelos aplicadores.

Aposentei-me em 1994, no cargo de gerente adjunto o BASA, com 30 anos de contribuição para o INSS.

Em 1995 fiz concurso para CRT onde fiquei de 1996 até 2008, tendo sido tesoureiro e, posteriormente, gerente financeiro, saindo, da empresa em 2008, quando vim morar na praia.

Em todas estas minhas caminhadas eu lidei, sempre, com bens de terceiros e os conservei inalterados e, devidamente corrigidos, sempre lembrando-me dos conselhos de minha mãe.

Fiz , esta longa digressão pessoal, pelo que peço desculpas ao meu leitores , para dizer que não consigo entender quando li uma manchete em que a deputada Talíria Petrone (Psol-RJ) e outros sete deputados, com apoio de defensores públicos e instituições tenham apresentado um projeto- em regime de urgência, que descriminaliza furtos do valor de até 400,00 ( quatrocentos reais)

De novo as palavras de minha mãe voltam a minha memória e me dizem que mesmo que os tempos tenham mudado, se eu pegar uma agulha que não é minha eu estou cometendo um furto e devo pagar por isto.

Mas diante destes tempos modernos, embora eu tenha certeza que não mudarei , acho que posso parecer que estou sendo muito radical.

Deixo, então com meus amigos a tarefa de me dizerem se estou errado e os deputados estão certos.

Um boa noite e um bom domingo, enquanto é possível…!

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