Rhapsodia ad Urbe
A Lei – como prêmio de consolação – acaricia o injustiçado, fruto do estupro – indesejado -, anencéfalo – inquestionável monstruosidade -, a fome, a carência, a falcatrua, a desilusão. Casas e arranha-céus flambados, janelas de algodões-doces: um seqüestrador de tocaia um gatuno nos telhados,. Cortes, cicatrizes, sulco de arados. O Theatro vomita na Praça a platéia da última sessão. Desce o pano. Eu, The clown, Transfiguro-me em marginal: vago sem rumo para (des)nutrir uma platéia que não ri, não chora, não esboça um sinal de vida sequer.
Silêncio no proscênio. Amanhã, tudo há de se repetir, ao toque de um botão no painel central. Com o firmamento carente de astros e estrelas, busco, incessante, a voz suave que embalou meus sonhos na praia em que a saudade ainda faz morada. Quero ter os pés-descalços sobre espumas e a areia a envolver, outra vez, braços e pernas e bocas. Não desejo me ver sozinho, cantando para desertos de pedra e espinho. Surdos. Mudos. O amanhecer corrompe-me as retinas, me resseca os lábios e Impõe-me mudar a realidade. Não mais só, não mais sem ter aonde ir. Unidos, Valéria, Patrícia, Joaninha, Madalena, Mariza.
Fazendo-nos ler, fazendo-nos sentir, fazendo-nos valer, fazendo-nos ouvir, exorcizando nossas dores. Contrariando ao desejo de ocasionais aproveitadores, não transformem em quimeras, prefeitos e vereadores, as promessas de campanha nos palanques feitas a nós, sempiternos sonhadores de uma evoluída Capão da Canoa.