“Eu sou o mêdo do fraco – a placa de contra-mão”
“Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual…
Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real…”
Raul Seixas, in “Maluco Beleza.
O que, agora, “sou”, “faço” e “onde estou”, daqui a um minuto, é elementar, será “fui”, “fiz” e “estive”. Transcorrido este lapso de tempo, serei diferente: para melhor ou pior, não importa; minha bagagem estará mais plena, mais inteira, com os souvenires do conhecimento. Intransferíveis, inalienavelmente meus!
Se, algum dia, fui colaborador de um suplemento literário de um grande jornal diário que hoje não mais existe, Assessor Jurídico da Caixa Econômica Estadual, é porque, sem dúvidas, os fui unicamente por méritos próprios. Guardadas as evidentes proporções entre eu e Paulo Brossard, este, ao subscritar suas crônicas no jornal ZH, identifica-se como EX-Ministro da Justiça, EX-Senador da República.
Não existe alguém que julgue ser de bom senso e graça ao fazer piada de que Folha da Tarde é um EX-tinto jornal, Caixa Estadual uma Ex-tinta autarquia e Brossard outros tantos EX’s. Se houver, este sim, há de compor alguma “claque armada”, se não for, apenas, um idiota a mais.
A literatura – como a música, a pintura, a escultura o teatro – é uma arte. Como tal, além de estilos, possui, sobretudo, as mais diferentes técnicas. É fundamental para que, no caso, o leitor – antes de se atribuir infalível julgador, enunciador de (pré)conceitos –, tente, ao menos, entendê-los (os estilos e as técnicas). A este pré-julgador, Nêmesis** espreita para cobrar a insolência.
Os verdadeiros escritores somos diferentes, pertencemos a outro plano de existência. Somos sagrados, mágicos… como as prostitutas do templo ou as virgens vestais… Isso não significa que – fique bem claro! – sejamos bons ou maus. Somos diferentes. Prescindimos dos demais. Quando estamos tristes, alegres ou assustados, não nos viramos para os outros; subimos para nossa torre de silêncio e contemplamos paisagens que os outros jamais conhecerão. Ao descermos, estamos purificados e revigorados, trazemos nossas obras como um talismã de conforto… ainda que, tantas vezes, somente para nós mesmos.
* “Gita” – Raul Seixas
** – Nêmesis, na mitologia grega, era a Filha da Noite, a vingadora dos que eram insolentes com os deuses, dos que deixavam de compreender e respeitar a ordem das coisas.