SAP: Coronéis, siénoroc? (seq. prod. XXI)
Quando eu era estudante do primeiro grau (hoje ensino fundamental), a disciplina que mais me atraía era História, principalmente ao tratar da revolução de 64, um dos momentos mais conturbados de nossa história recente. Na adolescência eu tinha uma certa fixação por informações referentes a essa fase, por ter ocorrido numa geração anterior à minha. Até me sinto meio velho: sou produto do século passado.
Sou da época em que telefone convencional em Santo Antônio da Patrulha era coisa para ricos. Orelhão, quando havia, era com ficha, não cartão. Computadores só eram vistos em séries e filmes de televisão (ou cinema, porque aqui já houve um), como Jornada nas Estrelas; telefone celular, nem pensar. Pesquisas para a escola eram feitas geralmente na biblioteca do Colégio Santa Teresinha, que era a mais completa e organizada da cidade.
Lembro que não podia levar os livros para casa, portanto o negócio era copiar ali mesmo. Ficávamos tardes pesquisando, copiando e planejando trabalhos. Mas agora, com o mundo a um clique do mouse, o problema maior tornou-se filtrar este excesso de informações — que acaba gerando uma série de reflexos na sociedade em que estamos inseridos.
Tantas informações de maneira instantânea, acabam rifando o direito à boa informação: aquela bem trabalhada, estudada, e realmente aprofundada antes de chegar ao público.
Os veículos divulgadores de informações pecam muitas vezes: tanto pela pressa em fechar a edição dentro do prazo, como pela falta de espaço para aprofundar mais determinados assuntos.
Além disso, pode acontecer ainda que seja abordado um assunto sob um determinado ponto de vista, divergindo da opinião de alguns leitores e, não raro, causando-lhes até uma certa estranheza.
Pois acontece que, nos últimos dias, abordei o tema “coronelismo“ — situação típica de muitas cidades do interior até bem pouco tempo, e ainda existentes em algumas.
Senti prazer de conversar com três leitoras de minhas colunas: uma advogada e duas professoras — pelas quais tenho grande admiração e muito respeito —, sobre este assunto, em dias diferentes.
Surpreendeu-me a visão que elas têm a respeito dos coronéis — visões de mundo bem diferentes: a delas, da geração de 60, pessoas que conviveram ainda com alguns coronéis; e a minha, geração de 80, que não chegou a conhecer nenhum.
De acordo com o que elas me disseram: “os coronéis eram pessoas boas, justas e de bom caráter, cidadãos de muita integridade. Um coronel de verdade possuía recursos financeiro para solucionar pequenos problemas da comunidade. Eles tinham a palavra como ponto de honra, eram muito respeitos pelo povo. Um bom Coronel ia na Igreja, sua família era admirada, seu nome o precedia. Não voltavam atrás na palavra dada. Um coronel podia ser maragato ou chimango; não mudava de lenço ou bandeira. E eles também contavam com duas prerrogativas interessantes: judiciária — resolviam na hora pequenas desavenças ou delitos — e político- social, muito à flor da pele.”
Isso me fez refletir mais sobre estas figuras emblemáticas admiráveis, mas cujo título, dependendo do sentido atribuído, pode causar-nos repúdio. Os coronéis tiveram uma importância determinante em certos momentos de nossa história, por isso têm seus nomes nas ruas de nossa cidade, porém no cenário atual seria difícil subsistirem nas bases antigas. Ou será que não?
Ao fazer esta análise, busco mostrar um lado dos coronéis que nós, os jovens, não chegamos a conhecer por não termos convivido com eles.
É claro que existiram também muitos coronéis que fizeram abuso do poder que possuíam, mantendo toda uma sociedade sob o jugo, daí surgiu a expressão “coronelismo“, carregada de significado negativo.
Vistos, agora, os dois lados da questão, quero ressaltar que um dos meus principais objetivos ao escrever é combater o sistema falho, corrupto, ineficiente, fazendo as cobranças necessárias, e apontando possíveis soluções para os problemas sociais.
Digo aos meus leitores que se corresponda comigo sempre que quiserem, manifestando sua opinião sobre o que escrevi ou a respeito de outros assuntos. É muito bom, e extremamente necessário, nos comunicarmos, trocarmos idéias, expressarmos nossos pontos de vista, sejam eles convergentes ou divergentes aos do nosso interlocutor.