Fome e plantio são preocupações após ciclone extratropical no RS
Enquanto equipes de resgate buscam por desaparecidos em cidades gaúchas afetadas pela passagem de um ciclone extratropical, que causou temporais e alagamentos esta semana, organizações de assistência aos atingidos têm uma preocupação: a segurança alimentar dos milhares de desabrigados e desalojados, e dos próprios voluntários.
Além disso, há um alarme para um problema futuro: pequenos agricultores perderam suas lavouras, o que pode colocar em risco a oferta de alimentos na região.
De acordo com balanço das 12h deste sábado (9) da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, são 41 mortes confirmadas e 46 pessoas desaparecidos.
O número de municípios afetados chega a 87.
São 3,1 mil pessoas desabrigadas e 8,2 mil desalojadas.
Algumas das cidades mais afetadas são Muçum, Roca Sales, Nova Bassano, Estrela, Ibiraiaras, Passo Fundo, Mato Castelhano, Encantado, Lajeado e Arroio do Meio.
Diversas campanhas foram lançadas para arrecadar materiais de primeira necessidade e alimentos não perecíveis. No entanto, como grande parte da estrutura das cidades foi devastada, há dificuldade até para preparar os alimentos para as famílias atingidas.
“Falta local para armazenamento adequado [da comida]”, alerta Jacira Dias Ruiz, secretária-executiva da Caritas Regional RS. “Uma demanda importante é espaço para fazer comida quente e mais nutritiva. Nos municípios onde os danos foram graves, não tem onde cozinhar”, contou à Agência Brasil.
O presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do Rio Grande do Sul (Consea-RS), Juliano de Sá, articula a montagem de cozinhas de campanha para minimizar a situação.
“É um problema urgente, são mais de 10 mil famílias e centenas de voluntários que estão com dificuldades para alimentação. As doações chegam em alimentos não perecíveis ou em lanches, porém, as pessoas não têm como cozinhar. Estamos tentando articular a montagem de cozinhas de campanha para produção de alimentos para distribuição no formato de marmitas.”
“Conversei por telefone com o ministro Wellington Dias, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, e ele se comprometeu em garantir alimentos para as cozinhas que conseguirmos organizar. Conversei também com a Secretaria de Assistência Social do Rio Gande do Sul, que se comprometeu em ajudar a viabilizar a logística”, relata Juliano de Sá.
Agricultura
A preocupação com pequenos agricultores motivou o Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ) a lançar uma campanha para a aquisição de sementes que serão doadas aos produtores rurais.
“A situação é desesperadora e caótica. Perdas inestimáveis e irreparáveis. Perderam plantios, animais, galpões, máquinas, casas”, descreveu à Agência Brasil o Frei Sérgio Görgen, diretor do ICPJ. “Com a campanha vamos tentar repor um pouco do que perderam e levar conforto e solidariedade”, completa.
“A situação está bem difícil, pois agricultores perderam tudo o que plantaram. Isso terá consequências a curto e médio prazo no que se refere à produção de alimentos e criação de animais. Será necessária uma política de reparo para essas famílias voltarem a trabalhar, algo que levará um certo tempo até se reestabelecerem as coisas”, avalia o presidente do Consea-RS.
Por causa da dificuldade de acesso às áreas mais afetadas – mais notadamente na Região dos Vales, no centro do estado, que reúne quatro vales de rios: Vale do Jacuí, Vale do Rio Pardo, Vale do Taquari e Vale do Caí – os organizadores da campanha não conseguem dizer exatamente quantos pequenos produtores precisam de ajuda.
A campanha Missão: Sementes de Solidariedade é uma extensão emergencial de um programa que existe há alguns anos e leva sementes e insumos agroecológicos para comunidades camponesas. Neste ano, a ação já havia sido concluída, mas após relatos de agricultores tendo perdido suas lavouras, a ação voltou à ativa.
Além do ICPJ, participam da mobilização o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Cáritas Brasileira e Cáritas RS, Instituto Koinós, Comissão Pastoral da Terra (CPT-RS), Movimento dos Atingidos e Atingidas Por Barragens (MAB) e Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC/Franciscanos).
“Na próxima semana começaremos a preparação das pessoas que entrarão em contato com as famílias camponesas para identificar necessidades para que possamos adquirir e distribuir as sementes e, se possível, algum equipamento para replantar os roçados”, detalha Jacira Dias Ruiz.
“Entendemos que é uma forma de plantar um pouco de esperança para essas famílias. Uma forma de terem comida e continuarem colocando alimentos em nossas mesas também”, ressalta a representante da Cáritas RS.
Defesa Civil
O chefe da Casa Militar e Proteção e Defesa Civil, coronel Luciano Chaves Boeira, ressaltou que alguns itens estão sendo mais demandados pelas famílias atingidas. “Roupas íntimas, fraldas e roupas de cama (como lençóis, travesseiros, cobertores e fronhas) talvez sejam a grande ajuda humanitária para os municípios neste momento”.
As entregas podem ser feitas em pontos de referência da Defesa Civil e quartéis do Corpo de Bombeiros. Todas as doações precisam estar em boas condições de uso, além de higienizadas.
O chefe da Divisão de Relações Comunitárias da Defesa Civil, tenente-coronel Luís Omar, afirma ser importante identificar, nas embalagens, o que está sendo doado a fim de facilitar o trabalho.
“Quanto mais organizado o material chega para nós, mais rapidamente podemos direcionar”, explicou.
Agência Brasil
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