Em certo ponto da cidade,
Estava eu a admirar a escuridão,
Daquele ponto,
Dentre outros pontos da cidade.
A escolha desse ponto em especial
Deve-se ao fato de ser o meu preferido,
Em sua vista indubitavelmente pontual,
O sol emana mais calor,
Deixando o ponto tão claro,
Mas tão claro
Que ao longe
Posso enxergar o ponto de meu amigo.
E, a noite, em meu ponto,
Sem dúvida a mais bela,
Mesmo quando, nas pontuais luas novas,
Mal posso enxergar a ponta de meu nariz,
Mas ao longe sim.
Nas noites mais solitárias,
Em meu ponto unicamente,
Vejo a cidade com seus pontos coloridos
Parecendo-me nitidamente
Um grande ponto final.
Neste ponto que não…
Não… É bem um ponto,
Mas um lugar,
Passo dias e noites
Até meu mundo acabar.
Se este fim demorar,
E a minha morte chegar antes,
Passarei para meu filho
O meu ponto querido,
Pois nele aprenderá da vida
O que ela tem de melhor.
E, se ele desejar,
Quando chegar sua vez,
Passará para seu filho
O que mais felicidade nos deu.
O nosso ponto querido.
25 de maio de 1992.
Toda arte é política, todo ato é político, você manifestar uma escolha é política.
O poema acima pode não ser o mais poético já escrito, mas era a visão obscura de um adolescente de 16 anos em relação à sua cidade. Cidade esta que não disponibilizava para este jovem, recém iniciante na sua jornada em busca da própria independência, uma boa perspectiva de trabalho ou algo que lhe propiciasse um futuro razoável.
As perguntas feitas naquele momento eram: em que posso trabalhar? Quem me dará uma oportunidade? Na época, nos restavam as fábricas de calçados, pequenos ateliês, ou um joguinho de futebol lá no campo perto do hospital.
E hoje, de 1992 para 2008 mudou alguma coisa?