Assassinato na junta comercial - Sergio Agra - Litoralmania ®
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Assassinato na junta comercial – Sergio Agra

O streaming Netflix disponibilizou no dia 11 último o filme “No Lugar da Outra”, onde é narrada a história de Mercedes, uma secretária jurídica que investiga o caso de um crime passional cometido pela escritora chilena María Carolina Geel.

A trama se passa no Chile, em 1955, quando a escritora María Carolina Geel mata o seu amante. O caso desperta a atenção de Mercedes, uma secretária jurídica do tribunal, que é designada para investigar a vida da escritora. Ao visitar o apartamento de María Carolina, Mercedes encontra um oásis de liberdade e começa a questionar a sua vida, identidade e o papel da mulher na sociedade. O filme discute o papel feminino numa sociedade gerida pelo patriarcado.

“No Lugar da Outra” é baseado numa história real, retratada no livro “Las Homicidas”, da autora Alia Trabucco Zerán.

Maria Carolina Geel, em que pese ter sido sentenciada culpada pelo tribunal, recebe o indulto presidencial, graças à interferência de Gabriela Mistral (1889-1957), poetisa, educadora e diplomata chilena, primeiro nome da América Latina a vencer o Prêmio Nobel de Literatura.

De imediato, veio-me à memória o crime cometido por Hermínia Dulcina Correia Guimarães Gualdi, poetisa, romancista, cronista, professora, atriz cinematográfica, cujo nome artístico era Nina Gualdi.

Em 16 de maio de 1964, no Gabinete da Diretoria da Junta Comercial do Rio Grande do Sul, Nina atirou contra o ex-marido, Ênio Gualdi, então Diretor daquela Junta, devido à proibição deste, que tinha guarda judicial, para ver seus filhos. Ela foi presa em flagrante. Nina cumpriu condenação de quatro anos de reclusão.

Conheci Nina no início dos anos 1970. Ela residia no Bairro São Geraldo, bem próximo à Igreja que empresta o nome àquele Distrito.

Não foram muitas as tardes dos sábado em que visitei Nina em seu apartamento, mas o suficiente para conhecer um pouco mais aquela singular mulher. Incipiente escrevinhador, eu acreditava ter pendores de poeta. Levava-lhe pencas de poemas datilografados que ela, na sua maneira franca, rude algumas vezes, abortava minhas pretensões de versejador. Garantiu-me que os meus caminhos na escrita deveriam ser outros.

Os anos de prisão tornaram-na uma mulher sombria, um ser sofrido, espelhado em seu livro “Poemas da Carne” com que me presenteou no nosso último encontro.

  Eu contava dezessete anos de idade mais jovem do que Nina. Isso, porém, nunca fora empecilho na relação poetisa/aprendiz de.,,

Ah, a dedicatória, uma libertação:

— “Eu não tive a felicidade e o Brasil jamais foi berço de uma poetisa como Gabriela Mistral que alevantasse a bandeira para meu indulto…”.

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