O país da piada pronta
Em recente Programa do Jô, o saxofonista Derito Sciotti, integrante do Sexteto Onze e Meia, efetuou performance ridicularizando os parlamentares brasileiros no abominável capítulo da farra das passagens aéreas. Travestido como dançarina, tal Lisa Minell em sua atuação no filme “Cabaret”, o músico irrompe em meio à platéia cantando uma sátira da canção “New York, New York”.
A quinta-feira, 7 de maio, se viu inundada pelas manchetes dos grandes jornais brasileiros reportando a desfaçatez e o despudor do deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), relator do processo de quebra do decoro contra Edmar Moreira (expulso do DM-MG). Para quem não lembra, Moreira, dono de um castelo de 25 milhões de reais, poucos dias após assumir, em fevereiro deste ano, a função de corregedor da Câmara, fora acusado de não declarar à Justiça Eleitoral o referido imóvel. Além disso, é investigado no Conselho de Ética(?) por suspeita de uso do dinheiro público em benefício próprio, utilização de notas fiscais de suas empresas de segurança para justificar gastos com a verba indenizatória, além de imoralidades outras.
Pois o ilustre(?) relator Sérgio Moraes, antecipando seu voto absolutório, vê no “colega e amigo” Edmar Moreira o “boi de piranha”, porque outros parlamentares fazem coisa parecida. Entendendo estar amparado na seriedade que o seu sétimo mandato lhe deveria outorgar, alardeia: – Estou me lixando para a opinião pública. Até porque parte da opinião pública não acredita no que vocês (jornalistas) escrevem. Vocês batem, mas a gente se reelege.
Este é, pois, o mais fiel retrato que a politicalha faz dos quase duzentos milhões de habitantes desse país, que não passa de uma Bobolândia. É pela certeza dos que compõem a bandidagem parlamentar de que somos um povo piadista, engraçado, irreverente e que de tudo retira uma graça, mesmo dos mais venenosos lagartos e cobras que esses maus políticos nos empurram goela abaixo, que os levam a ser, como Sérgio Moraes, ex-prefeito de Santa Cruz, detentor de seu sétimo mandato parlamentar, é: arrogante, insolente, desdenhoso e ofensivamente desrespeitoso não só ao seu próprio eleitorado como, em última instância, à própria Associação Brasileira de Imprensa.
Se honrássemos o tão decantado verso patriótico – Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta, nem teme, quem te adora, a própria morte -, certamente nossa resposta não seria suave e apenas uma anedota.