Vinhos
Quando tomo um vinho branco,
Destas velhas geadas que caem na fronteira
E que são capazes de congelar os silêncios das palavras que eu não disse.
Quando tomo um vinho bordô.
Navego em rio vermelho de paixão e sangues.
De duelos travados por fidalgos,
Na solidão de bosques seculares,
Sob o olhar atento do luar que se derrama,
Colorindo, com suas luzes, as velhas árvores…
Quando tomo um vinho tinto,
Sinto na boca a secura dos desertos,
Que é saciada pelos sabores
dos mil beijos da mulher que amo,
E me transporto para íngremes paisagens,
Feitas de verdes e de pedras.
Quando tomo qualquer vinho,
Me torno um silencioso buscador,
Das verdades que se escondem no meu coração
E no coração dos homens e das mulheres,
Dos quais sou imagem e voz, silhueta e sombra.
Quando tomo qualquer vinho,
Os minutos tem sabor de horas,
E as horas, tem sabor de anos,
E o relógio do tempo, inflexível,
Desliga seus tirânicos ponteiros.
E me permite compartilhar da eternidade.
E dos mistérios que se escondem na minha alma
E na alma de todos os homens e de todas as mulheres ,
Que como eu, existiram e que existirão, eternamente.
E posso ver os seus amores e os seus ódios,
As suas compaixões e as sua raivas,
Os seus orgulhos e os seus medos,
Os seus gritos de alegrias,
E vejo, também,os seus sisudos rostos
em cujas bocas,os sorrisos não habitam.
E posso ver o inquisidor que com seus ferros,
De apertar e de queimar,
Produz agonias e mortes, nos mártires escolhidos.
Mas posso, também, ver em uma noite,
Algum amante apaixonado, aos acordes de uma viola milenar,
Cantar para a sua amada,
que aparece em uma janela que se abre,
na escuridão de seculares casas.
E posso ver os trabalhadores com suas mãos,
Rudes e calejadas, com velhos arados,
Puxados por bois, grandes e dóceis,
Preparando a terra, para receber a semente,
De trigo e de videiras….
Que crescerão dando sementes e frutos,
Para que seja possível a alquimia do pão e do vinho,
Nutrientes de corpos e de almas que,
Como o meu corpo e como minha alma,
Serão alimentados,plenamente !