Entenda as causas do aborto de repetição

Fatores genéticos, anatômicos, trombofílicos e endócrinos estão relacionados com essa perda gestacional

Recentemente, a apresentadora Sabrina Sato revelou que, em 2024, sofreu duas perdas gestacionais — isto é, dois abortos espontâneos. Em entrevista à revista Glamour, ela afirmou que viveu o luto enquanto trabalhava, passou por internações e dois procedimentos de curetagem, e decidiu compartilhar sua história agora com mais tranquilidade.

O aborto é uma situação mais comum do que se imagina, com incidência de uma em cada cinco mulheres gestantes. “Esse número vale tanto para gestações naturais quanto para os casos de fertilização. O período de maior cuidado é no primeiro trimestre, quando o bebê ainda está se formando, mas o aborto pode acontecer em qualquer momento da gravidez“, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.

Características do aborto de repetição

Existem vários tipos de abortos, como o abortamento retido, inevitável ou incompleto, abortamento completo e o aborto de repetição. “É caracterizado como aborto a interrupção de uma gestação antes de o feto conseguir sobreviver fora da barriga da mãe. Isso quer dizer que essa interrupção deve se dar antes das 22 semanas e o feto deve pesar menos de 500 gramas”, diz o médico.

Segundo o Dr. Rodrigo Rosa, o aborto de repetição acontece quando a mulher sofre três perdas seguidas. “Nesses casos, o medo pode ser um companheiro nada agradável: a mulher engravida e fica apreensiva sem saber se conseguirá levar a gestação adiante. Entender as causas do aborto de repetição é, inevitavelmente, uma das principais necessidades de quem passa por essa situação”, acrescenta.

Causas do aborto de repetição

De acordo com o médico, existem causas genéticas, anatômicas, trombofílicas e endócrinas que estão relacionadas com o aborto de repetição. “Com relação à genética, um bebê normal possui 23 pares de cromossomos. Quando esse número se altera, para cima ou para baixo, o aborto pode acontecer. Isso é a própria natureza ‘eliminando’ um ser vivo que pode não ter as habilidades necessárias para sobreviver fora do corpo da mãe”, explica.

A idade da mãe também pode estar relacionada com a causa do aborto de repetição. “As maiores chances de isso acontecer são quando uma mulher engravida em idade mais avançada, por exemplo, aos 40 anos. Porém, os 35 anos já é uma idade em que se deve ter maiores cuidados, pois já é mais comum que a mãe tenha filhos com doenças genéticas”, destaca o Dr. Rodrigo Rosa.

Causas anatômicas

Quanto às causas anatômicas, é comum que modificações na anatomia do útero também se destaquem como causas do aborto de repetição. “Útero bicorno, útero septado e outros são exemplos dessas anomalias. Outro fator são os miomas acima de 4 cm ou que, de alguma maneira, afetam a cavidade endometrial (endométrio e o tecido no qual o feto começa a se desenvolver). Outra mudança anatômica que pode levar ao aborto é a formação de pólipos ou mulheres que possuem adenomiose”, diz o médico.

Pacientes com trombofilias podem sofrer aborto de repetição (Imagem: Studio Romantic | Shutterstock)

Causas trombofílicas

Pacientes com trombofilias, um tipo de doença que aumenta o risco de formação de trombos, também são mais suscetíveis aos abortos de repetição. “Os trombos são coágulos que se instalam em vasos sanguíneos e podem obstruir a passagem de sangue. Pode desenvolver casos graves como a embolia pulmonar (quando um trombo vai para o pulmão). Alguns anticoagulantes, medicamentos utilizados para ‘afinar o sangue’ e impedir a formação de trombos, podem ser prescritos na gestação”, explica o Dr. Rodrigo Rosa.

Causas endócrinas

Distúrbios endócrinos que costumam se desenvolver nessa fase e afetar a gestação são bem particulares, sendo o diabetes gestacional o principal. “As taxas de aborto espontâneo, natimorto, malformações congênitas e morbidade e mortalidade perinatal são maiores em filhos de mães diabéticas. Insuficiência do Corpo Lúteo (redução da progesterona) também é uma das alterações endócrinas que levam ao aborto”, diz o médico.

Gravidez após o aborto de repetição

É possível engravidar e ter uma gestação saudável mesmo após aborto de repetição. “O primeiro ponto a ser considerado para se engravidar após episódios seguidos de aborto é procurar um especialista em reprodução humana. Este profissional será capaz de ajudar o casal a partir da identificação das causas. Descobrindo a causa, o tratamento pode ser iniciado e realizado de diversas formas, de acordo com a necessidade de cada paciente”, explica o Dr. Rodrigo Rosa.

Dependendo das causas do aborto de repetição, pode ser recomendada uma mudança de hábitos. “Pode ser necessário realizar uma FIV (Fertilização in vitro) para que a mulher tenha condições de engravidar novamente — e a técnica pode ajudar a selecionar embriões cromossomicamente normais. A gestação deve ser minuciosamente acompanhada pela equipe de especialistas”, destaca o médico.

Com os cuidados necessários, a gestação pode ser levada à diante. “A boa notícia é que, independentemente das causas do aborto de repetição, mulheres que passaram por esta situação possuem 70% de chance de engravidar e ter uma gestação saudável. O mais correto a se fazer é procurar um especialista”, finaliza.

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Por Paula Amoroso

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