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Brasil: uma fábula ou uma parábola?

Estavam reunidos Sylvio Santos, Paulo Malluf, Eike Baptista, Emilho Odebrecht e Lulinha da Silva, o “Fenômeno”. Sim, “Fenômeno”, porque, da lua pro sol, sair da condição de limpador de coco de girafas para dono de uma fortuna familiar de R$2 bi, só mesmo um fenômeno. Aliás, os cinco juntos eram, mesmo, fenomenais. Integravam o SBT (Sindicato Brasileiro dos Tamanduás), que não apenas liquidavam com as saúvas como também com o próprio Brasil.

Discutiam, naquele momento, o que fazer com o Povo Brasileiro, essa gente mesquinha, ingrata e maledicente, que apenas sabia falar mal deles, sem reconhecê-los como “gênios” da conduta mais ilibado nas áreas de atuação de cada um.

Sylvio Santos, não sem antes dar o seu gargalhar bucaneiro, sugeriu socar o Povo Brasileiro no fundo do baú, no que foi contrariado por Paulo Malluf. O “Salim” sugeriu vedá-lo numa grande caixa de Eucatex e lançá-la no fundo oceano, o que suscitou o conhecido olhar “ebx” do Eike, ante a sua proposição de confinar o Povo Brasileiro numa de suas minas mais profundas. Emilho Odebrecht, desdenhoso, do alto de sua falsa fleuma britânica, contrapôs, com o forte argumento de que não demoraria e a equipe de resgate dos mineiros chilenos lançaria a cápsula Fênix II, soterrando, aí sim, os planos do SBT.

Restou, apenas, o Lulinha, o “Fenômeno”. Com a notória riqueza vocabular, colocou em pauta sua sugestão:

– Óia, gente, nóis fazemus o seguinte. Esquecemus o Povo Brasileiro di dentro da jaula do Leão. O bicho vem e come. Não resta nenhum ossinho pra contá história. Sem “vertígio”.

Sylvio Santos, sem conseguir vencer o ímpeto de sua gaitada pirata antes de cada frase, elogiou:

– Ele é mesmo o Fenômeno. Vai lá, vai lá!!!

Nisso, para espanto dos sócios do SBT, pois que não fora convidado, entra na sala Chico Anysio. Trazia o desafio de, não em dar a volta ao mundo em oitenta dias, mas no prazo de oitenta horas, e não especificando o quê, roubar do SBT, sem que se apercebessem, algo que lhes era vital. Caso não lograsse êxito, seria eterno subserviente ao grupo. O contrário, o SBT assinar-lhe-ia a carta de alforria ad perpetuum.

Pacto selado, relógios cronometrados, o prazo começa a fluir.

Transcorrem 79 horas. A sede do SBT engalanada preparava-se para os acepipes da vitória.

Lulinha “Fenômeno”, com um palito de fósforo tentava, em vão, retirar sob as unhas as “lembranças” da última girafa que limpara. Eike, em devaneios, mirava a coleira cravejada de diamantes, sem saber o que fazer com ela. Emilho e “Salim”, com cartas escondidas em todos os bolsos possíveis e imagináveis, jogavam truco. Sylvio, após chamar os comerciais, saíra para um xixi amigo. Assim eles se encontravam que não se aperceberam, ainda que distante, a chegada calculada e silenciosa de um vulto.

– Rá, ráaaa… É o Professor Raimundo – alegrou-se Sylvio Santos.

– Não, – de imediato retrucou Paulo Malluf. – … é o Caio Malufus!

– Quê nada! É o Alberto Roberto! – este era Eike Baptista.

– Nanananinão! É o Bozó! – era a vez de Lulinha “Fenômeno”.

– Canavieira! Sim, é o Canavieira! – acudiu Emilho Odebrecht.

– Coalhada!…

– Coronel Limoeiro!…

– Gastão!…

– Haroldo!…

– Nazareno!…

– Neyde Taubaté!…

– Painho!…

– Pantaleão!…

– Popó!…

– Roberval Taylor!…

– Salomé!…

– Véio Zuza!…

– Nada disso, auditório! – suspirou Sylvio Santos. – É o Chico! O Chico Anysio vindo admitir sua derrota para nós, os maiores …… Os maiores…

– Mas o que é isso, companheiro! – zombou Paulo Malluf – O dono da maior …. de carnês do… Dono da maior….

– Péra aí, gente! – o “Fenômeno” tentava esclarecer. – É a “poliça”!

– É o Bope!

– É a Polícia Federal!

– É o Exército!

– É a Marinha!

– É a Aeronáutica!

– É o Povo Brasileiro!

– O que essa gente quer de nós, os maiores… das… de…?

No dia seguinte, a grande manchete ilustrava a primeira página d’“O Estadão”:

MISTÉRIO! AS PALAVRAS EMPRESA, EMPRSÁRIO, FACHADA E CORRUPÇÃO SUMIRAM DO DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA! – Essas palavras foram banidas para todo o sempre, ou foi apenas mera ação pontual???…

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