O “Presidente Sarney” visitou Torres
Harley Dullius era amigo de Jorge Bueno, que possuía uma característica peculiar: era impressionantemente parecido com José Sarney. Dir-se-ia irmão gêmeo do então Presidente. Bastava aparecer em algum lugar e a dúvida se estabelecia: “Seria mesmo o Sarney?” E Bueno alimentava esse imaginário e se deliciava ante a situação de sósia daquele ex-mandatário.
Dullius possuía negócios em Torres, o que lhe obrigava, seguidamente, para lá viajar. Em 98, durante uma dessas viagens, convidou o amigo Bueno que aceitou o passeio.
A primeira parada deu-se numa ferragem da cidade onde Dullius comprou alguns materiais, enquanto o “Sarney”, pacientemente, o aguardava no automóvel.
Após tratar com o dono da loja, Dullius argumentou que teria que se retirar de forma apressada, pois estava conduzindo o ex-presidente José Sarney que viera a Torres, de forma sigilosa, especular sobre eventual investimento na cidade.
Incrédulo, o dono da loja somente se convenceu quanto viu a figura do “Presidente” sentando no automóvel de Dullius. O comerciante não se conteve:
— Presidente, é uma honra tê-lo em Torres — fazendo questão apertar a mão do sósia — o que o senhor necessitar, estamos à disposição!
E o “Sarney” respondia, alimentando a situação:
— Meu amigo, a honra é minha conhecer essa famosa e formosa praia do Sul. E, tenha certeza, por aqui vou investir no setor imobiliário.
Rumaram, após, para um grande empreendimento que estava sendo construído. Lá chegando, “Sarney” permaneceu no carro, enquanto Dullius fazia as tratativas. Este não se conteve apenas com a brincadeira feita ao dono da ferragem. Comentou, então, para os engenheiros e operários da obra que “Sarney” estava em sua companhia e que iria investir na cidade. Eles não acreditaram. Convenceram-se somente ao avistarem a figura discreta do “Sarney” sentada no carro. Os engenheiros e operários ficaram surpresos e eufóricos. Dirigiram-se ao carro e clamaram ao “Presidente” que saísse. Em volta do “Sarney” formou-se um aglomerado de pessoas que passavam pelo local. “Sarney” distribuiu autógrafos e, com dificuldades, abandonou o local.
Depois, caminharam pela cidade e almoçaram num restaurante no Centro; “Sarney” comprou regalos, inclusive de uma artista plástica torrense. Era “reconhecido” por onde passasse. Sorridente, retribuía aos afagos.
À noite, em Porto Alegre, Dullius recebeu o telefonema do prefeito de Torres à época, César Cafruni. Cafruni cobrava — e não perdoava — o fato do ex-presidente não ter ido à Prefeitura.
— O “homem” estava apressado e voltou correndo à Brasília — ponderou Dullius.
O fato tomou vulto. O jornalista Affonso Ritter, na sua coluna, “Observador”, do Jornal do Comércio, na edição de sexta-feira, dia 24 de julho de 1998, comentava:
“Sarney em Torres”
Senador José Sarney (PMDB) passou parte desta quarta-feira em Torres atrás de negócios particulares, acompanhado de investidor que comprou nove apartamentos do Dunas Flat. Sarney também comprou um, além de coleção de gravuras da artista local, Roseana Martins.
“Aeroporto local”
O prefeito César Cafruni, que soube da visita só depois, acha que ela está ligada à possível implantação de um cassino na cidade, que agora tem aeroporto, cuja conclusão está sendo bancada pela Prefeitura, através de empréstimos, porque os empresários não fazem parte.
O jornal O Pioneiro, de Caxias do Sul, em edição de 24 de julho de 1998, repetiu o texto de Ritter.
O jornal Cidade, de Torres, na edição do dia 28 de julho de 1998, por sua vez noticiava:
“POLÊMICA SOBRE A PASSAGEM DE JOSÉ SARNEY POR TORRES”
Segundo a Imobiliária Osmar Pinto, ele veio visitar a cidade e conhecer o Dunas Flat, trazido pelo investidor imobiliário Harlei Dullius Mabilde. Inclusive assinou ficha de visita do empreendimento. Ficou algumas horas em Torres, na quarta-feira, dia 22 de julho. Foi visto por várias pessoas, dentre as quais os funcionários da imobiliária, pelo radialista Mário Malmierca, pelo “marchand” Paulo Tito da Silva e pela pintora Roseana Martins, de quem comprou um quadro. Veio de avião até Porto Alegre. Deslocou-se a Torres de automóvel com Mabilde, ficou algumas horas e, no mesmo dia, às 19 horas, embarcou de volta a Porto Alegre.
No entanto, na terça feira, dia 28 de julho, a agência Folha de Notícias, da Folha de São Paulo, informava que um assessor de Sarney, de nome Olinto Guarani, desmentia no Maranhão sua viagem ao Rio Grande do Sul e Torres. O repórter Carlos, da agência Folha em Porto Alegre (sucursal da Folha de São Paulo) informou também que o próprio senador José Sarney havia telefonado para a sucursal da Folha de São Paulo, em Brasília, desmentindo a viagem ao Sul.
Polêmica formada: de um lado, pessoas garantindo terem visto e conversado com José Sarney em Torres, de outro, Sarney e seus assessores desmentindo.
A Dullius e Bueno somente restou se deliciarem com a “barriga” aplicada na imprensa…