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Participação do Rio no PIB nacional diminuiu 60%

Há exatamente 50 anos, o Rio de Janeiro perdeu o status de capital da República para a recém inaugurada Brasília, a cerca de mil quilômetros na direção noroeste. A perda do papel oficial que o Rio carregava desde 1763, como capital da colônia, do império português, da monarquia brasileira e da República, também representou perdas políticas e econômicas.

É o que afirma o economista e especialista em Planejamento Urbano da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mauro Osório. Ele diz que a cidade chegou a perder 60% de sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, entre a década de 70 e o ano de 2007. Segundo ele, a cidade foi tendo perdas graduais ao longo das décadas de 60, 70 e 80, ao mesmo tempo em que Brasília ia se consolidando como a nova capital.

“A mudança da capital foi acontecendo de forma muito lenta. Inclusive na época de João Goulart, a população carioca nem acreditava que Brasília fosse se consolidar. Mas o fato é que Brasília vai se consolidando e, com isso, o Rio de Janeiro vai perdendo o que tinha de receita pública, vai perdendo poder, a capacidade de atração de empresas e o setor financeiro que estava no Rio, numa boa medida [por causa do Banco Central], vai para São Paulo”, conta Osório.

Ao mesmo tempo em que o Rio perdia economicamente, diz Osório, a cidade também sentia o impacto político. Antes sede do poder nacional, os cariocas não conseguiam mais pensar na política de uma forma regional. “Como o processo foi lento e havia uma descrença de que ele ocorreria, a população não se organizou regionalmente para isso”, disse.

O regime militar, a partir de 1964, teve um papel importante nesse processo político. Durante o regime de exceção, o Rio de Janeiro viu muitos de seus políticos serem cassados e uma espécie de “clientelismo” se instaurou no cenário carioca.

“Um marco de poder particularmente clientelista, a ausência de estratégias e a perda da capital vão gerar uma série de fatores que levam a uma crise estrutural. E, por isso, o Rio de Janeiro tem sido uma das regiões que menos cresceu entre a década de 70 e a atual”, afirma Osório.

O historiador Oswaldo Munteal, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), acredita que o grande responsável pelas perdas da cidade do Rio foi o golpe militar de 1964 e não a mudança de capital propriamente dita.

“O ano de 1960 deu ao Rio de Janeiro, talvez, a sensação de perda de um peso político simbólico. Mas as estruturas de poder permaneceram, as repartições públicas continuaram. O Rio continuou sendo um lugar com uma presença muito forte da União. Quatro anos depois, aí, sim, o Rio de Janeiro sofreu um duro golpe, porque se tratava historicamente de uma cidade de oposição. E ela foi completamente sitiada e controlada pelo poder militar”, conta Munteal.

De acordo com ele, apesar da perda do status oficial de capital da República, o Rio continua sendo uma espécie de “capital informal do Brasil” perante o resto do mundo. “Não vejo derrota [na transferência da capital]. O Rio perde apenas aquele lado sisudo, de capital, mas fica com a dimensão da beleza estética e continua sendo, de certa forma, no cenário internacional, a capital simbólica do Brasil”.

Para Mauro Osório, a cidade do Rio de Janeiro tem mostrado sinais de recuperação nos últimos anos e tem grandes oportunidades para reverter os impactos negativos deixados pela perda do poder oficial.

Segundo ele, o Rio deve aproveitar não só as oportunidades apresentadas nos setores de petróleo e gás e médico-farmacêutico, mas também aquelas geradas pela Copa do Mundo de Futebol de 2014 e pelas Olimpíadas de 2016.

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