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Predominância do inglês pode barrar outras culturas na Internet

Especialistas reunidos no FGI (Fórum de Governança da Internet) alertaram esta semana sobre o uso predominante do inglês na rede mundial de computadores, fato que precisa ser revisto antes que se transforme em uma barreira para outros idiomas.

Eles temem que formas de conhecimento cultural acumuladas ao longo de séculos de progresso humano possam se perder para sempre.

“Cerca de 90% dos 6.000 idiomas [em uso hoje] não estão representados na Internet”, disse Yoshinori Imai, da emissora de TV japonesa NHK.

“Estas pessoas poderiam ser excluídas da informação e do conhecimento”, acrescentou.

Em países como Colômbia e Senegal, a tradição oral e a herança cultural que poderiam ser usadas para propósitos de pesquisa e educacionais podem nunca alcançar uma abrangência mundial, afirmaram lingüistas e sociólogos durante o fórum de quatro dias, celebrado no subúrbio ateniense de Vouliagmeni até 2 de novembro.

“Uma grande parte da população não tem voz porque não consegue partilhar a informação”, disse Adama Samassekou, presidente da Academia Africana de Idiomas do Mali.

“Toda vez que uma língua morre, uma visão de mundo desaparece”, afirmou.

“Mesmo no campo da pesquisa existe um viés lingüístico, o inglês é de longe a língua dominante”, acrescentou Divina Frau-Meigs, professora de sociologia midiática da Universidade de Sorbonne, em Paris.

Quando se trata de criar sites com conteúdo não-inglês, os usuários de muitos países enfrentam dificuldades já que a HTML —linguagem de computador através da qual as páginas Web são criadas— amplamente usa palavras e abreviações inglesas, disse Bernard Benhamou, conferencista especializado em sociedade da informação do Instituto de Ciências Políticas de Paris.

“Para os ocidentais, isto não representa muito, mas para um usuário que não fale inglês é um trabalho e tanto”, declarou à AFP.

Um exemplo é o de uma comunidade cambojana na Internet, que desenvolveu seu próprio software em khmer após ter sido recusada por um desenvolvedor de software, contou Markus Kummer, presidente do grupo de trabalho das Nações Unidas sobre governança na Internet.

Diversidade
No momento, iniciativas para diversificar o uso da linguagem na rede são realizadas por vários países.

Mas as Nações Unidas e outras organizações, como a Icann (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers), órgão mundial responsável por estabelecer regras do uso da Internet, receiam que uma fragmentação possa ocorrer se a questão não for tratada adequadamente.

Se isto acontecer, os especialistas dizem que digitar um endereço na internet levaria a links diferentes, dependendo da localização geográfica do usuário, enquanto os e-mails se perderiam no caminho.

“Atualmente, o risco da fragmentação é pequeno, mas se acontecer, será realmente ruim”, disse Patrick Faelstroem, consultor sênior de engenharia da Cisco Systems e membro do grupo de política e estratégia de tecnologia da informação do governo sueco.

“Significaria que se você me mandar um e-mail da Grécia, eu posso não conseguir sequer responder a você da Suécia”, acrescentou.

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