Protesto continua e presidente da Venezuela agora mira CNN e TV local
Um dia depois de tirar do ar o canal de TV mais antigo na Venezuela, o governo do país solicitou à Procuradoria-Geral que abra uma investigação contra a rede norte-americana CNN e a venezuela Globovisión por veiculações de “mentiras” e por incitar a violência contra o presidente Hugo Chávez.
O ministro das Comunicações e da Informação da Venezuela, Willian Lara, disse que, na semana passada, a CNN exibiu falsamente um protesto ocorrido no México como se tivesse ocorrido em Caracas e mostrou imagens de Chávez ao lado de um líder do grupo terrorista Al-Qaeda. A Globovisión, canal que transmite notícias 24 horas, exibiu cenas do atentado contra o papa João Paulo II em 1981, que segundo Lara significavam um incitamento contra Chávez.
– Essa é uma tentativa de associar Hugo Chávez a duas coisas: violência e morte – disse Lara.
A investida contra as duas emissoras acontece ainda sob o impacto do fim da RCTV, a emissora venezuelana mais crítica ao presidente Chávez e que tinha os maiores índices da audiência do país. O governo não renovou a concessão de do canal, que saiu do ar na noite de domingo, dando lugar a uma nova TV pública. A iniciativa vem causando reações dentro e fora da Venezuela. Ontem, assim como no domingo, manifestantes foram às ruas contra a decisão. Houve confrontos com a polícia.
Mas, por mais que os protestos possam perdurar por dias ou semanas, não parecem ter ainda o potencial para desencadear uma crise de política e ameaçar o regime no país. É essa a avaliação de analistas – prós e contra Chávez – ouvidos ontem.
– O fechamento da RCTV momentaneamente agrupa setores de oposição, mas os partidos e as forças contrárias a Chávez estão muito fragmentadas e o caso da emissora não é suficiente para reunificá-los – afirma o professor de Análise Política da Universidad Simón Bolívar, Jesus Herrera.
Segundo outro analista, Luis Vicente León, diretor da Datanalisis, instituto de análises políticas e econômicas da Venezuela, que costuma ser crítico do presidente, “Chávez optou por essa medida impopular porque calculou que o custo da não renovação da concessão seria menor que o benefício que ele teria com o fim da TV”.
A RCTV, diz ele, era vista pelo governo como o inimigo mais forte, já que no campo político os partidos de oposição estão enfraquecidos. A emissora chegou a ter 67% de penetração e atingia as camadas D e E, exatamente a faixa de eleitores de Chávez.
Até ontem, pelo menos, o custo da decisão parecia ser baixo. Os protestos são ainda muito menores que os de cinco ou seis anos atrás, quando a oposição alega ter reunido de 2 a 3 milhões de pessoas contra Chávez. No sábado retrasado, um ato pró-RCTV reuniu cerca de 80 mil.
– A questão é que a RCTV não é uma representante tão forte dos clamores da classe média. Claro que o fim da emissora é um elemento desfavorável à imagem de Chávez, mas não suficiente para desestabilizá-lo – avalia o venezuelano Rafael Villa, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais, da Universidade de São Paulo (USP).
Em tese, o episódio seria uma oportunidade para o aparecimento de um líder que capitalizasse as frustrações de venezuelanos descontentes com a iniciativa de Chávez. Mas não parece haver no horizonte político venezuelano uma figura assim.
– O caso não deve ter um efeito para Chávez agora, mas trazer problemas para sua imagem no longo prazo e se somar aos desgastes que sua ações acarretam – diz León.