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A doença infantil do revanchismo

A solenidade de abertura dos 29º Jogos Olímpicos da Era Moderna foi de uma grandiosa e indizível beleza, extremamente bem executada, que se torna praticamente impossível escolher um momento como o mais significativo. O mundo inteiro parou para seguir e se emocionar com os fogos de artifício no céu de Pequim e mergulhou no Ninho do Pássaro, estádio que serviu de palco para uma encenação inesquecível da história de um povo, de suas realizações e de sua relação com o planeta.

Ainda que se mostre justo fazermos as devidas ressalvas do autoritarismo do governo chinês, que despreza liberdades individuais e polui a natureza em nome de um crescimento econômico quase selvagem, não há como deixarmos de reconhecer que a China organizou e realizou de forma impecável aquela cerimônia, contando a sua história milenar. Se houve a evocação de um passado longínquo, houve, sobretudo, a feliz conjugação dessa história, da tecnologia e de muita criatividade, enaltecendo, sim, suas tradições, mas a meritória visão focada no futuro.

Enquanto isso, na Esquina Democrática de Porto Alegre, a Brigada Militar promovia, por sua vez, um ato em homenagem a policial morto no confronto com o MST, em 1990. Indignados com as declarações do ministro da Justiça, Tarso Genro – que pediu a revisão da Lei da Anistia, no sentido de que sejam punidos torturadores da ditadura –, militares da reserva reuniram-se na sede do Clube Militar, no Rio, O Ministro, por sua vez, defendeu-se, alegando que em nenhum momento foi proposta a revisão da lei ou foi cogitado abrir processos contra pessoas que tenham participado de atos de tortura durante a Ditadura Militar.

O INCRA ainda se recompõe do último ato de vandalismo dos sem terra, em face da invasão de sua sede em Porto Alegre, onde, além de depredações, até fezes os colonos(?) “deixaram” nas suas dependências, ocasionando uma nova postura do Superintendente Regional daquele órgão governamental, antes tão afeiçoado às reivindicações do MST. O Brasil – com toda a fraude e corrupção da classe política e empresarial noticiada a cada novo dia – respira os ares da liberdade de imprensa e da livre manifestação do pensamento.

Assim, esses dois atos – o da homenagem ao soldado morto em confronto com os manifestantes, e as declarações de Tarso Genro – estão revestidos de extemporaneidade, retrocesso e revanchismo a segmentos que, se provocados, hão de pôr em risco, ainda que trôpego, o estado democrático de direito. É a miopia das inteligências negando-se a se focar no futuro e no desenvolvimento de uma Nação.

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