A escolha de Sofia 2 – Jayme José de Oliveira
O rescaldo do incêndio provocado pelos massacres em que presidiários – não policiais – trucidaram-se com selvageria, pipocaram análises sobre as causas, consequências e culpabilidade do horror. A onda predominante dos comentários pende visivelmente no sentido de encobrir a culpa dos autores e direcionar para as autoridades que não previram nem coibiram e à sociedade que não lhes oferece alternativas ao crime.
A escritora Marina Colasanti insiste: “Não basta perguntar quem eles são, indaguemos quem somos nós”.
Flávio Tavares, jornalista e escritor, mais equilibrado e sem usar óculos cor de rosa: “O horror tem o poder de nos despertar da letargia, mas nem mesmo assim vemos a cor do sol.O massacre de Manaus fez até o papa Francisco nos alertar sobre o abismo à nossa frente, mas continuamos inertes, como se a violência caísse do céu como a chuva, sem nossa interferência.
Talvez a natureza humana leve ao crime, tal como Caim e Abel o mostram. Os preceitos religiosos e as leis surgiram para coibir a maldade e permitir o convívio. No país em que tudo pode e em que é “feio” haver normas de comportamento e de convivência, tudo hoje é diferente. A libertinagem substituiu a liberdade. O professor já não aponta o erro do aluno pois “fere a dignidade”. Quem sabe não pode ensinar a quem nada sabe. Os pais não podem repreender os filhos e transmitir-lhes modelos de vida. A correção é malvista. (Zero Hora, 07/01/2.017)
O Estado Brasil nunca foi um paradigma a ser apregoado aos ventos. “Sirvam nossas façanhas – e costumes – de exemplo, a toda terra” é uma falácia que se permite ao desplante de comemorar uma derrota. A bravura da nossa gente já foi inquestionável. Hoje, após sucessivos governos – de todos os partidos – que malversaram recursos edistribuíram benesses a correligionários e aliados de ocasião, deixando a conta para ser paga pelos cidadãos que não se aninham entre os “mais iguais”, CHEGOU A HORA DE DAR UM BASTA! Assim como na represa de Samarco, o dique rompeu e o represado inundou a jusante. Não pode mais haver tergiversação.
A desagregação do sistema penitenciário é apenas um sintoma do que subjaz. A sociedade brasileira, cansada de viver sob o tacão duma ditadurarendeu-se ao canto da sereia entoado pela “Constituição Cidadã de Ulysses Guimarães. Ao fugir do autoritarismo abriram-se as comportas da permissividade. Silenciaram as vozes que clamavam por justiça e decidiu-se que é “proibido proibir”. Jogou-se sobre as vítimas o peso das mazelas sociais, as costas dos bandidos foram aliviadas. Afinal de contas, são “vítimas da sociedade” e deles não se pode exigir outra conduta.
Nossos policiais não temem enfrentar os bandidos, são as críticas e as manchetes ofensivas que os inibem. Quando um policial é morto em confronto, isso faz parte dos riscos aos quais se expõe. Quando malfeitor sucumbe é prova de truculência inadmissível.
Antes da carnificina de Manaus, Roraima e outras que seguirão houve o desmonte e o estupro da ordem. Recebem aplausos dos que consideram os “direitos humanos” dos malfeitores mais importantes que os das pessoas direitas. Foram décadas em que se solapou o verdadeiro significado da ordem – tornou-se um palavrão – e, como resultado, os que nos deveriam proteger sentem a necessidade de serem protegidos… e sabem que não são, nem serão. Se, no estrito cumprimento do dever resultar um delinquente “vítima”, o policial é encaminhado a um longo e desgastante processo de readequação psicológica.
A ironia suprema segue gargalhando de uma nação que se extraviou a ponto de perder para as facções criminosas até o controle dos presídios. E cogita-se indenizar os trucidados pelos próprios apenados na luta interna pelo poder.
O governador do Amazonasanunciou que vai indenizar (RS 50 mil por cabeça) as famílias dos bandidos mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim. O governador José Melo mandou pagar todo o mundo. Ele cumpre dispositivos da Constituição Federal e decisões do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF).
É inquestionável que os assassinatos, decapitações e esquartejamentos foram executados por apenados. Fácil será identificá-los. Considerar-se-á o extermínio um agravante ou, mais uma vez, será solicitada leniência?
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado