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A frase de toda uma vida

Quando a preguiça não se apossa de mim (um dia sim, seis não) dou minha caminhada pelo Calçadão da Beira-mar de Capão da Canoa.

No trajeto, encontro amigos já de algum tempo e outros que, na condição de generosos leitores, vieram a se tornar meus camaradas. Deles ouvi indagações acerca de para quem, especificamente, eu direcionara a “flecha” nas últimas cinco crônicas publicadas neste espaço?

Apressei-me em deixar claro que teclado não é arco, tampouco palavras “flechas”! Vali-me, ainda, do grande escritor, a maior expressão do conto russo, Anton Tchekhov que avisava: “Se, em meus textos houver a palavra “revolver” é porque ela será, efetivamente, usada”. Assim, à exceção de quando, de forma genérica, me refiro, como tem sido o caso, a pessoas vinculadas a cargos, instituições e órgãos públicos, ou a entidades privadas (construtores, magistrados, advogados, corretores, etc.), aí as cito nominalmente.

A temática dos textos a que os amigos se referiam era a minha intransigente defesa do respeito à data, há sete anos consagrada, da realização única e exclusiva da Feira do Livro de Capão da Canoa. Evento genuinamente cultural não há – via de regra – de ser tratado tal fruto que se lança no mix e o condensa a carne moída, por exemplo. É incoerente, não é digerível.

Ouvi de uns poucos curiosas definições: – Agra, você é um sonhador, um intelectual.

Não! Na acepção com que me “formataram” esses amigos, posso até ser um visionário, não intelectual!

No Brasil, o entendimento do que seja um “intelectual” nunca foi muito mais elaborado do que o sujeito que usa óculos e leia dois livros por semana. Em um país em que a educação e a cultura sempre foram marca de privilégio e não um valor universal, era apenas natural que a expressão, senão generosa que ouvi fosse vista sob a ótica do exagero. O “intelectual” brasileiro acabou associado a homens distintos, de fala e escrita rebuscada e levemente risíveis em suas vestimentas bem compostas, como calças e blazer de microfibras em pleno verão tropical. Ser intelectual não era pensar bem: era falar difícil.

Sou apenas um escrevinhador da aldeia, o trabalhador da primeira hora, sonhando, sim, num futuro não tão distante, em ser um formador de opinião. É muito mais fácil permanecer no ambiente protegido das academias do que ir a campo se sangrar nas inglórias batalhas travadas todos os dias em nome da Educação e da Cultura de sua gente, de sua comunidade, de seu município, pois o conhecimento é um valor que precisa não apenas ser cultivado, mas compartilhado.

Assim como o mito de Prometeu, a frase de toda uma vida:

Resisto!

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