Colunistas

A imagem que dispensou legenda

Passada a juventude, os arroubos de boemia, as noitadas de festas e porres ficaram arquivadas no inviolável baú das lembranças.

Sou, genética e habitualmente, um homem caseiro. Meu pai, até de forma um tanto exagerada, fora sempre assim. Para ele, o bordão “primo la famiglia”, era emblemático. Mesmo à época em que eu ainda residia em Porto Alegre, nas incursões a restaurantes, teatros, shows e até mesmo jantares de cunho profissional, me fazia acompanhar por minha mulher.

Assistir a um musical em DVD, ou escutar uma boa música, a leitura de um best seller, enfim, são prazeres que, em Capão da Canoa com muito mais razão, me motivam a não sair nos dias de semana à noite. Mesmo porque – pergunto – onde é que lá se pode ir?.

Respeito – pois isso é humano, demasiado humano – aos que preferem estar em lugar outro que não o recôndito do lar. Entendo e acato os gostos de cada um. Não me apraz, no entanto, enfiar-me todas as noites no boteco de sapé para o torneio de sinuca, ou (só para tripudiar sobre o comercial idiota) na casa de um amiguinho para jogar um poquerzinho e entre uma rodada e outra entornar dúzias de copos de uma cervejinha qualquer. A bem da verdade esclareço: sou exímio apreciador da “loura” Extra gelada no encontro de todas as quartas-feiras com meus fraternos amigos.

Toda esta introdução serve para me reportar à matéria veiculada no jornal Costa do Mar & Serra, de Capão da Canoa, em sua edição de sexta-feira, 3 de setembro, com direito à foto, acerca de um cidadão que tranquilamente dormitava no decorrer da sessão da Câmara de Vereadores de Xangri-Lá.

Não sei de quem se trata e, muito menos, se dentre outros, as preferências e prazeres daquele homem contemplem através de sua assiduidade aos enfadonhos, imutáveis e, pelo que traduz a fotografia, anestesiantes discursos de uma câmara municipal.

Faço, então, o convite ao nobre cidadão para que participe da minha confraria, ocasião em que celebramos a vida, a boa mesa e tecemos louvores às deusas Ninkasi* e Minerva*. Aposto que, mesmo após longa libação, nossa dialética, além de não induzir à sonolência é bem mais lúcida e inteligente do que muito discurso político.

* Ninkasi, Deusa da cerveja da cerveja, na mitologia suméria; e Minerva, Deusa da Cultura, na mitologia grega.

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