A incrível e fantástica história da rosa amarela, da rosa negra e de uma cidade com eflúvios de cravos-de-defunto* – Sérgio Agra

Sergio Agra

A INCRÍVEL E FANTÁSTICA HISTÓRIA DA ROSA AMARELA, DA ROSA NEGRA E DE UMA CIDADE COM EFLÚVIOS DE CRAVOS-DE-DEFUNTO*

A incrível e fantástica história da rosa amarela, da rosa negra e de uma cidade com eflúvios de cravos-de-defunto* - Sérgio Agra A incrível e fantástica história da rosa amarela, da rosa negra e de uma cidade com eflúvios de cravos-de-defunto* - Sérgio Agra 

 

 

 

Aleph percorreu uma longa distância.Após vencidos os dois postos de pedágio da autoestrada, viajou pela via férrea para finalmente alcançar o Povoado desfigurado pelos trilhos do trem urbano que o atravessam de norte a sul.

Fora aquele o Povoado que Aleph havia escolhido para presentear o coração e mente das rosas aldeãs com a sabedoria e o voo das borboletas de sua poesia.

A cidade pareceu-lhe ao primeiro olhar algo totalmente diferente do que imaginara: o Paço do Burgomestre Municipal e a Praça doF-8 GlosterMeteor**, sustentado por um suporte de concreto armado,escondiam-se na Neblina. Não havia sequer uma fresta de luz para mostrar que ali existia um Palácio, menos ainda de que ali estivera trabalhando um Interventor.

A aldeia exalava o cheiro de cravos-de-defunto murchos que invadia os botequins, os quartéis, as morgues e as alcovas, as sinagogas, os ilês e os templos. O eflúvio nauseava o bêbado, justificava os “jetons” dos edis, corroía o moral da polícia, transfigurava as madrugadas, estimulava o Soberbo Burgomestre, provocava os meliantes, excitava os amantes,onde apesar de tudo abundavam óbolos nas burras da Viúva Municipal.

No comitê os prosélitos no ad aeternum beija-mão juravam fidelidade ao Soberbo Burgomestre e revelaram o presságio que os Espectroshaviam enviado das profundezas das águas do rio: os lençóis freáticos algum dia iriam inundar o povoado.Os Penitentesjejuaram e rogaram perdão. Mal ressurgiu a primeira estrela, reincidiram.

Na Avenida Principal – reduto de ciganos, camelôs, rapinas e contraventores, o Ilusionista Vendedor de Milagres –o único que não sentia o bodum, imunizado pelos antídotos ingeridos contra picadas das serpentes com as quais se exibia perante o populacho em troca de alguns tostões, não sem antes, à socapa, neutralizar o veneno das peçonhentas.

No Paço, Afrodite, Deusa da beleza, do amor e da sexualidade, prostrada em seu leito anunciava ao Burgomestre em uivos lancinantes sua Morte para dali a poucas semanas, pois aquele bafio quando invadia o Povoado era para buscar alguém para o âmago das águas do Sinos.

Ela rogava ao Burgomestre para que a salvasse valorizando-a perante aquele inculto populacho antes que a Traiçoeira chegasse e a arrastasse para as águas que a conservariam refém até o dia de sua definitiva prestação de contas.

O Burgomestre, fingindo condescendência, sussurrava-lhe que nada de maléfico iria lhe acontecer, e aquele farfalhar de asas que Afrodite jurava ouvir eram as Asas da Anunciação, garantia de que tudo teria um final feliz.

Em verdade, era o Ilusionista Vendedor de Milagres que arrastava as tralhas para os fundos da Igreja ao som de um gramofone de onde regurgitava um tango antigo ouvido até no lupanar, nos cafundós do Povoado.

No prostíbulo, o Anjo Loiro despejava as sobras d’água de uma imensa bacia. Água que naquele momento inundava os barracos das comunidades, despertava definitivamente o bêbado e lavava a alma dos Sectários.

Água que arrefecia o olor dos cravos-de-defunto murchos e incrustava-se às pedras dos tristes caminhos da Aldeia. Água com a qual o Ilusionista Vendedor de Milagres saciava sua sede e que o Burgomestre estendia naquele momento para o vazio. 

O Ilusionista Vendedor de Milagres vaga pelas ruas desertas. Afrodite, ante a obsessão do Burgomestre repousa eternamente nas profundezas das águas.

E Aleph não logrou presentear o coração e mente das rosas-ave-marias com a sabedoria e o voo das borboletas de sua poesia.

O Burgomestre ou era extremamente egoísta ou ignorante demais! 

Fecho o livro que acabara de ler. A madrugada segue avançada. Alço o olhar para a lâmpada acesa onde uma mariposa teima em penetrar, e penso: onde foi mesmo que já ouvi esta história?

* Rosas amarelas: diz-se que podem significar amor platônico por alguém que está a morre;

Rosas pretas: separação, tristeza e morte;

Os cravos-de-defunto são plantas com flores muito coloridas e fáceis de cultivar, sendo muito apreciados por sua beleza e também pelo odor forte, que espanta os insetos. 

**F-8 GlosterMeteor: avião de caça bijato britânico

Código da imagem da rosa negra

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Código da imagem da rosa amarela

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