A melhor parte – Dom Jaime Pedro Kohl
A melhor parte
O evangelho deste domingo, 17/07, Lc 10, 38-42 – nos narra a acolhida que Marta e Maria dão a Jesus. Esse texto vem logo após a narrativa do bom samaritano que meditamos na semana passada (10/07), que nos mostrava como o caminho da vida eterna é o caminho do amor a Deus e ao próximo, deixando bem claro que o próximo é todo aquele que passa por uma situação de necessidade e que clama por solidariedade.
O amor verdadeiro não se reduz a palavras de consolação, mas de gestos concretos de cuidado, atenção, sensibilidade, parar para acudir, gastar tempo com o outro na gratuidade, poderíamos dizer que é fazer bem o bem que somos chamados a fazer, no total desprendimento.
A atitude das duas irmãs descreve o modo diferente e complementar de acolher Jesus: Marta toda atarefada em preparar a comida e Maria sentada aos pés de Jesus escutando-o. Jesus acaba dizendo a Marta que Maria escolheu a melhor parte.
Lucas quer mostrar que as duas atitudes são importantes no seguimento de Jesus: o serviço generoso de Marta e a escuta atenta de Maria. Jesus não diz que uma fez certo e a outra errado. A tradição cristã sempre viu nelas duas atitudes igualmente necessárias e complementares: a contemplação e a ação; a escuta da palavra e o serviço generoso e solidário do próximo.
O discipulado não é só o serviço da caridade, mas também, o dedicar tempo para ouvir a palavra do Mestre e Dele apreender continuamente. Esse é o sentido do estar aos pés de Jesus. Era o que faziam os discípulos no judaísmo do tempo de Jesus.
O evangelista Lucas não pretende contrapor a contemplação de Maria e a ação de Marta, mas ressaltar a atitude essencial e distintiva dos seus discípulos: a escuta da palavra do Senhor como condição para que o serviço não se torne estéril agitação. Lembremos a bem-aventurança: “felizes os que ouvem a Palavra e a põem em prática”.
A preocupação em servir bem é coisa boa, mas não deve impedir de buscar o crescimento na fé, obtido especialmente pela escuta e meditação da Palavra, pela oração pessoal e comunitária.
É bom hospedar e cuidar bem das pessoas. Lembremos o belo fato da vida de Abraão que sem saber, acolhendo bem os hospedes, recebe a bnção de Deus, a graça da fecundidade. Mas, o mais importante é acolher a Palavra que é o próprio Cristo. Por isso disse a Marta: “Uma só coisa é necessária e Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”.
Se perseverarmos na escola do Mestre aprenderemos Dele não só a forma correta de acolhermos, mas também o jeito certo de evangelizarmos, partilhando a fé que liberta e salva.
Para refletir: A partir da mensagem desse texto, como eu sou? Um contemplativo atento? Um ativista desenfreado que nem se quer tira o tempo para o descanso de dever? Quanto tempo dedico à leitura, à oração, à meditação da palavra de Deus, a estar gratuitamente junto aos familiares? Sou uma pessoa capaz de escutar os outros?
Textos bíblicos: Gn 18, 1-10; Col 1, 24-28; Lc 10, 38-42; Sl 14(15).
Dom Jaime Pedro Kohl
Bispo de Osório