A nossa paradoxal realidade – Erner Machado
Ontem, como faço, sempre no primeiro sábado do mês, fui ao Super Mercado Stock, em Capão da Canoa levando em conta que eles fazem a promoção “Arrastão” o que proporciona que muitas pessoas comprem os gêneros alimentícios, com consideráveis descontos e possam economizar alguns reais, para poderem fazer frente as demais despesas até que chegue o salário a ser recebido no final do mês.
O público que frequenta o “arrastão” é formado por homens e mulheres aposentados, pessoas de menos idade- trabalhadores da sede, e dos distritos de Capão Canoas – e profissionais liberais
Em razão da grande quantidade de pessoas nos corredores é possível ouvir os comentários que as mulheres fazem aos maridos ou estes a elas, sobre o preço elevado em que se encontram todos os tipos de mercadorias, mesmo estando em promoção.
Neste sábado entre os produtos objeto de lamurias, encontram-se o Azeite de Oliva, a carne, o Café de pacote de meio quilo, os produtos de limpeza, as margarinas, o queijo, presunto, os ovos.
Para mim, há longos meses, quando passo no Caixa para pagar minhas compras constato que a conta, sempre, é maior que a do mês anterior.
Neste primeiro de março superou, todas, as minhas expectativas de valor.
Eu consigo, ainda, manter a prática de fazer um pequeno “ranchinho” no início de cada mês porque tenho um salário de aposentado desde 1994, pois comecei a trabalhar, muito cedo e me aposentei muito jovem e a este salário eu agrego, alguns reais obtidos, quando há procura, das minhas atividades de Consultoria Financeira.
Mas, para mim é impossível não pensar naquele pai de familia que trabalha 8 ou mais horas por dia e quando recebe o seu salário, com qual tem que pagar as contas de água e luz, que são prestados por preços muito elevados e tem, ainda, que pagar por um Botijão de Gás de cozinha o equivalente a R$ 135,00.
Acho que pais iguais a estes- e são centenas de milhares no Brasil- não conseguem comprar remédios e roupas para seus filhos e, muito menos, fazer um “ranchinho” mensal ainda que modesto.
Fico pensando nas suas angústias e nas dores que sofrem, solitários e silenciosos, diante das necessidades familiares que não consegue atender.
É impossível , pela minha história, que eu não viva seus dramas e não sofra junto com eles.
Paradoxalmente a estas dificuldades pelas quais passa o nosso povo as Redes Sociais, informam que o Presidente do Senado Federal aumentou em 22,19% o valor Vale Refeição dos Servidores o que resulta no exorbitante valor de R$ 1.784,42, ou 117,52% superior ao salário mínimo do trabalhador brasileiro, que é do valor de 1.518,00 em vigor a partir de 01/01/25.
Essa decisão de sua excia., fica mais cruel e mais incompreensível quando verificamos os exorbitantes salários mensais das diversas categorias de servidores do senado, como segue abaixo.
CARGO | REMUNERAÇÃO | EM SALÁRIOS MÍNIMOS |
---|---|---|
Tec. Legislativo | R$ 19.427,79 | 12,80 |
Analista Legislativo | R$ 25.897,76 | 17,06 |
Arquivologista | R$ 25.897,76 | 17,06 |
Policial Legislativo | R$ 20.234,42 | 13,33 |
Analista de TI | R$ 105.000,00 | 69,17 |
Analista Sênior | R$ 27.138,72 | 17,88 |
Os dados acima dizem que a menor remuneração de um Servidor do Senado Federal, representa o salário-mínimo pago a 12,8 trabalhadores brasileiros e a maior significa que poderiam ser, com ela, pagos 17,88 trabalhadores brasileiros.
Total mensal das categorias individuais, daria para pagar 147,30 trabalhadores brasileiros que recebem o salário mínimo.
Mas perplexidade não para por ai, sua excia. o presidente do senado (com letras minúsculas, propositalmente) determinou que os servidores, do órgão, a cada três dias trabalhados terão direito a um dia de folga, remunerada…. é claro!
Que atrocidade, que falta de conhecimento da realidade do Brasil e de seu povo, que vergonha!
Como consolo, talvez, Castro Alves com seu gênio singular possa responder as nossas angustias, de escravos da realidade presente, com a última parte de seu poema o- Navio Negreiro- escrito para os escravos do passado.
“Existe um povo que a bandeira empresta
Pra cobrir tanta infâmia e covardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente nos ares tripudia?
Silêncio. Musa… chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! …
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança…
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvesse roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares”
( Recanto da Ana e do Erner,02/03/24- Capão Novo)