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A rentabilidade da Poupança e o canto da sereia

No site do Terra, em matéria publicada no dia 28.01.12, sob autoria de Filipe Gonçalves, há uma larga defesa sobre a grande valorização dos rendimentos depositados na poupança e todo o desdobramento que a queda da taxa de juros básicos da Selic vai agregar sobre tais investimentos conservadores. O autor defende que a poupança será uma boa possibilidade de ganhos, com rendimentos maiores que o CDB ou que os Fundos de Renda Fixa, já que estes estão atrelados à Selic, que tende a cair ainda mais em 2012.

Na verdade, o texto é muito bem escrito, bem ilustrado com gráficos comparativos e enche os olhos. Seria importante que o leitor buscasse localizar o texto sob o título: “Com Selic baixa, poupança rende mais que Fundos de Investimento”, publicado em 28 de janeiro.

Esclareça-se, em primeiro lugar, que o “fundos de investimento' a que o autor se refere são os com lastro em Renda Fixa. Os vinculados à renda variável têm seus rendimentos atrelados à valorização ou depreciação das ações das empresas de capital aberto, com oferta na Bolsa de Valores, e que não terão impacto direto em razão da queda da selic. Também aqueles fundos derivativos ou cambiais estão fora do arcabouço sitado pelo autor.

Importante destacar, porém, que a matéria do Filipe Gonçalves está escrita sob a ótica do poupador. Infelizmente, porém, não é o poupador quem dita as regras do Sistema Financeiro. É o Banco Central. E, via de regra, as determinações e direcionamentos da Política Financeira no Brasil, ditadas pelo Banco Central, são oriundas das demandas do Governo Federal ou da Febraban, a Federação Brasileira dos Bancos, que representa, principalmente, os bancos privados.

Explicada esta questão, vamos justificar o porque de tal expectativa ser, na minha ótica, um canto da sereia.

Ocorre que o governo não deverá permitir a migração dos recursos hoje aplicados em fundos de investimento (ou seja, a grande maioria em Renda Fixa, lastreada em títulos do governo) para a poupança. Isto impactaria diretamente na queda do valor dos títulos do governo e, por conseqüência, aumentaria a dívida pública.

A ameaça de elevação da atratividade da poupança há pouco tempo atrás, já levantou a hipótese de tributação sobre este investimento, via compulsório e iof específico, além de outras medidas sobre o SBPE, como o aumento da aplicação em habitação por parte dos bancos afiliados…

A ótica do texto é do poupador, que hipoteticamente teria menos custos com a poupança e, portanto, rentabilidade líquida maior.

Na ótica dos  bancos, no entanto, esta migração é predatória, pois vai significar reflexos como a perda de receita de intermediação destes fundos, os chamados ganhos de tesouraria, via taxas de administração e de oportunidade, spread, entre outros… A administração e intermediação de fundos já responderam por quase 70% do lucro da Caixa, da mesma forma na maioria dos bancos.

Por isso a captação em poupança não é incentivada pelos bancos privados, que preferem  atuar com fundos de investimento,  com derivativos,  debêntures, mercado de opções, renda variável e  fundos  cambiais.

A Caixa é uma exceção, em razão da aplicação em larga escala na habitação , concentra boa parte do seu marketing na busca por recursos de poupança e concentra, hoje, grande parte do volume destes depósitos no país.

Mas, como  essa não é a realidade dos bancos privados, que são os que mais vão abrir a boca e 'pedir pinico'  e como são eles que mandam na Febraban, podemos antever como certa uma forte retaliação à poupança, sob qualquer uma das formas já citadas, para desestimular qualquer fuga de outros tipos de investimentos. Se a SELIC continuar caindo realmente, e os prejuízos para os bancos aparecerem no horizonte, os Bancos Privados não vão ficar assistindo.

Por isto tudo, acredito que não vai ser muito bem digerida pelo mercado e pela equipe econômica do governo, esta fase de atratividade da poupança, embora o atual momento do País incentive o aumento do nível de poupança do brasileiro, a migração precisa ser paulatina, nunca em massa.

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