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AAAAHHH!!!… o racismo – Silma Terra

AAAAHHH!!!... o racismo - Silma TerraCOLUNA COTIDIANO

AAAAHHH !!!…. O RACISMO.

Mas você não é negra, você não tem traços do negro.  Sim!! Sou negra sim.

Como já ouvi isso. As pessoas buscam “aliviar” pelo pensamento delas, a carga de ser negro neste país, no momento que se dirigem a nós negros, chamando de moreno, mulata, pele mais escurinha. Não existe nuances de cor. Somos um só, preto, negro.

Um racismo velado, nojento, absurdo. Esse silenciamento brasileiro em relação à existência do racismo é inaceitável. Não temos como entender que um povo formado pelo branco europeu, os negros africanos e os índios que aqui já habitavam, sejam esses 100 milhões de brasileiros que negam a sua ancestralidade.

Você é clarinha, … imagine os negros tição.

O estomago embrulha, dá enjoo.  Sou negra, não a recusar o lado branco da minha avó, mas por que meu pai é negro. Sou negra, sim.

 Sendo negra, neste momento que o mundo está em ebulição por causa da pandemia, não poderia me calar e deixar de opinar sobre o absurdo que é o racismo, tema tão mais forte que deixou em segundo plano a Covid-19.

Os Estados Unidos ardem; ardem pela culpa de não encararem o racismo como tema latente e necessário. A morte de George Floyd, um homem negro de 46 anos que teve o pescoço pressionado pelo joelho de um policial por mais de oito minutos, se espalharam por mais de 75 cidades do país, e muito se assemelha a morte de Martin Luther King Jr. Assisti um documentário sobre King, líder da luta por direitos civis nos EUA, e o famoso discurso “Eu tenho um sonho”. Continuamos sonhando como em 1968, em busca de igualdade entre as pessoas.

Desde criança eu conheci o racismo. Na cidade em que nasci tinha o clube dos brancos ricos, os brancos pobres e o clube dos negros. Eu estou com apenas 58 anos e vi isso, acreditem. Lembro bem de um familiar que era jogador de futebol, aparecia na televisão, famoso. Ele foi ao clube dos brancos pobres e entrou. Ele era um negro de alma branca na concepção daquelas pessoas. Critério insano. Mas mais insano ainda, acredito que,  tenha sido ele ir até lá. Seria por afirmação? Sou negro, mas sou famoso, jogador, então eu posso?

Sempre me sobressaí onde quer que estivesse, com alegria e otimismo, principalmente na escola eu não me calava e por ser sempre  destaque, sofri racismo.

Há poucos meses passei por uma cena de explosão de racismo velado. Eu tenho um canal no YouTube e nele falo das coisas do dia a dia, do nosso cotidiano. Ao deixar meus cabelos grisalhos, quis gravar um vídeo sobre este tema. Estávamos em busca de cenários por Florianópolis. Conversando com amigos, ao falar do tema, fui agredida fisicamente com um forte toque que não se assemelha a um soco, por que foi com as pontas dos dedos, atingindo as minhas costelas. Aos gritos ela me diz “Nega nojenta que se acha” entre outros adjetivos. Isto por que assumi os grisalhos e ela com o cabelo cheio de tinta, sentiu-se ofendida.  Narro num vídeo no meu canal esta história. Aproveite, entre no meu canal Silma Terra no YouTube e assista a este e outros vídeos interessantes sobre o meu cotidiano.

Mas você é clarinha, cabelos macios, você não é negra.

Historicamente no Brasil, diferente de outros países que é escancarado, aqui não é. Está arraigado em camadas profundas, a tal ponto do racista não se ver como um. Ele se esconde, velado a ponto de não sabermos quem é o inimigo.

Eu trabalhei numa empresa que além de mim tinham outros funcionários negros. Numa tarde de pouco movimento, o patrão a conversar, não lembro o motivo, acabamos entrando no assunto racismo. Ele, o patrão, de peito empolado disse não ser racista.

– Olhe quantos empregados negros temos aqui. Mas para casar com minhas filhas não aceitaria não.

Ele disse isso e foi pra sua sala e eu meio que pega de surpresa, calei-me.

Quantas vezes nos calamos a ponto de desconsiderarmos o peso do pertencimento racial? O não querer ser, o pertencer a uma raça de cabelo ruim e uma pele escura. A cada dia é renovada uma violência social herdada do passado, que se perpetua. O racismo no Brasil é uma chaga que mesmo depois de um século da abolição da escravatura, a população negra na sua grande maioria permanecem à margem da sociedade.

O racismo velado não quer expor essa ferida. O Brasil busca políticas que são apenas pontuais e sob a pressão da sociedade organizada.  Não bastam políticas de resgate histórico à população negra, está muito além. Não precisamos de migalhas, precisamos que seja feito algo educativo nas escolas, para que as nossas crianças que não nascem racistas, afinal o racismo é uma reação aprendida, ensinem seus pais que não existe diferença entre as pessoas por causa do tom de pele. Somente através da educação, ressocialização e conscientização teremos de forma mais efetiva um recuo do abismo racial que assola nosso país.

Atualmente demos um grande passo a voltar ser o que somos, quando abandonamos o alisamento dos cabelos. Vemos nas ruas, na televisão, nas escolas e universidades negros e negras maravilhosos, expondo cheios de orgulho seus cabelos black. Quando entrei para a universidade parei de alisar meus cabelos, pus à mostra os crespos lindos que possuo e depois fui além, parei de pintar, expondo mais ainda uma verdade. Assim vamos nós, em busca de provar – nem que seja por mil vezes – que nossa inteligência e capacidade produtiva, independem do tom de pele.

Como diz Maju Coutinho, “Os preconceituosos ladram, mas a caravana passa”.

#teatirapravida

Silma Terra

Palestrante Motivacional, comunicadora de rádio e televisão, Youtuber e  Bibliotecária de formação.

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Site- www.silmaterrapalestras.com.br

Contato – contato@silmaterrapalestras.com.br

PodCast – https://soundcloud.com/sillma-borges-therra

 

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