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Acidente da TAM poderia ter sido evitado, dizem deputados

Deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Crise Aérea concluíram que havia indicadores suficientes para que alguma ação fosse tomada para evitar o acidente ocorrido com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas (SP) no último dia 17, em que mais de 200 pessoas morreram.

O assunto foi tratado em audiência pública da CPI com o vice-presidente técnico da companhia, Ruy Amparo. Os indicadores citados pelos deputados Miguel Martini (PHS-MG), Fernando Gabeira (PV-RJ), Luciana Genro (Psol-RS) e Ivan Valente (Psol-SP) são: relatos de pista escorregadia por pilotos de outros vôos anteriores à torre de comando; derrapagem de avião da Pantanal no dia anterior; declaração de outros pilotos da TAM sobre dificuldades de parar a aeronave; peso da aeronave acidentada (62 ton) perto do limite máximo (64 ton) para a pista; e reverso direito travado.

Segundo Amparo, o manual do avião, elaborado pela Airbus, foi seguido à risca pela empresa e permitia o pouso da aeronave naquelas condições climáticas e com um dos reversos travado.

Lucro é principal mandamento da TAM

Para Gabeira, a ausência de atitude que pudesse evitar o acidente dá a impressão de que a segurança dos passageiros não é a principal preocupação da empresa.

– Realmente, o maior valor da companhia é o lucro – afirmou, referindo-se ao primeiro dos sete mandamentos que constam do site da TAM: nada substitui o lucro.

Indignada com o fato de esse ser o primeiro dos sete mandamentos listados pela empresa na internet, a deputada Luciana Genro (Psol-RS) lamentou as poucas respostas que o vice-presidente técnico da empresa prestou à CPI. Para ela, a comissão deveria ter convocado o presidente e seu corpo técnico para prestar informações mais detalhadas sobre os procedimentos recomendados pela TAM, pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pela Airbus.

Contradições

O deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) foi o primeiro a questionar sobre a contradição entre a recomendação do boletim de operações técnicas da empresa, um regulamento da Anac e o manual do fabricante da aeronave sobre os procedimentos de pouso em pista com chuva.

Segundo Pires Franco, tanto a Anac quanto o boletim da TAM recomendam o uso do “máximo reverso possível” nos pousos com pista molhada, enquanto o manual da Airbus considera o reverso um mecanismo dispensável para o pouso nas condições em que estava Congonhas contanto que os outros dispositivos de frenagem estejam em perfeito funcionamento.

Ruy Amparo disse desconhecer em detalhes o boletim da empresa, que ele reputou como sendo da área de treinamento. Reafirmou ainda que a TAM segue o manual do fabricante porque é o documento da aeronave reconhecido tanto pela Anac quanto pela autoridade reguladora européia (EASA).
– O que tem de ser seguido é o manual do avião. A recomendação da agência reguladora é geral para todas as aeronaves, mas a lei para o A-320 é o manual, aprovado pela própria agência – disse.

Dez dias

Outro ponto questionado pelos deputados foi o prazo que o fabricante permite às companhias usar a aeronave sem realizar o conserto definitivo no equipamento com defeito. Os deputados Ivan Valente, Sabino Castelo Branco (PTB-AM) e o 1º vice-presidente da CPI, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), indagaram o que aconteceria se a TAM não consertasse o reverso direito do avião dentro do prazo de 10 dias dado pelo manual do avião e por que o conserto não foi feito antes.

Tecnicamente, Ruy Amparo disse que não haveria problema em passar um pouco do prazo, pois ele é estipulado para evitar que algum outro problema se some a esse e diminua a segurança do vôo. No caso específico do reverso, explicou que a recomendação do fabricante é de travar o equipamento com defeito para evitar que seja acionado sem comando em pleno vôo, o que seria muito perigoso.

Eduardo Cunha quis saber por que a aeronave, que já havia pousado em Congonhas no dia anterior ao do acidente, não foi consertada naquela mesma data. Amparo informou que a operação estava dentro do prazo e o conserto estava programado para o dia seguinte ao do acidente, no hangar da companhia em Congonhas.

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