Alvíssaras – Jayme José de Oliveira
Este grenalismo extremado que, neste século, caracteriza a política brasileira precisa ser exorcizado pois age como areia numa engrenagem. Emperra e corrói as peças que movimentam não apenas a economia como a relação entre as pessoas. Não nos consideramos adversários, tornamo-nos inimigos figadais.
Com júbilo me refiro a duas notícias que nos dão um vislumbre de esperança nas fímbrias do horizonte:
1.- Marcele Decothé da Silva, assessora especial de assuntos estratégicos do Ministério da Igualdade Social, foi demitida da pasta. Qual o motivo da decisão extrema tomada pela ministra Anielle Franco? Marcele Decothé da Silva debochou e ofendeu a torcida do São Paulo de Futebol. “Torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade… pior de tudo, paulista”. Escreveu esta diatribe nas redes sociais, usando inclusive adjetivos em linguagem neutra.
A ministra telefonou para os presidentes do São Paulo e da Torcida Independente para pedir desculpas. Em nota disse: “As manifestações públicas da servidora em suas redes estão em evidente desacordo com as políticas e objetivos do ministério”.
2.- Depois de meses de árduo trabalho de mediadores e um ponto percentual de juros a menos, o presidente Lula aceitou receber Roberto Campos Neto, que preside o Banco Central desde 2018 e tem mandato até o fim do ano. O encontro ocorreu no dia 27 de setembro e serão o primeiro entre os dois no Palácio do Planalto desde que Lula assumiu a presidência da República.
Dois dias antes de tomar posse Lula se reuniu com Campos Neto e, segundo assessores, não foi um bom encontro. Discordando frontalmente da taxa de juros alta e desgostoso com a impossibilidade legal de demitir o presidente do Banco Central, a conversa foi seca.
Nos meses seguintes atacou Campos Neto, rotulou-o como “tinhoso” e “teimoso” pelo fato de não permitir uma queda substancial na taxa Selic.
Campos Neto chegou a mandar sinais para ser recebido por Lula e reclamou pelo fato de tomar conhecimento dos nomes cotados para a diretoria do BC pela imprensa. O principal intermediário do encontro do dia 27 de setembro foi o ministro da Fazenda Fernando Haddad, que em muitos momentos atuou como bombeiro.
O principal sinal que se pode tirar da reunião é o da maturidade política. Aponta para um porvir com menos aspereza. O futuro se vislumbra mais ameno nas relações e, também, mais produtivo nos resultados. Convenhamos, quem melhor pode planejar os ásperos caminhos da Economia são os economistas que se abrigam no Banco Central e isto é reconhecido universalmente.
Não podemos crer que haja brasileiros dispostos a levar a economia nacional para a derrocada por picuinhas políticas, nem que executivos, por motivos de convicções pessoais se recusem a constatar o óbvio: “Ao Legislativo cabe a tarefa de legislar, ao Judiciário dirimir disputas, ao Executivo comandar a nação e aos técnicos, de todas as áreas, indicarem as melhores soluções”. Com TODOS exercendo suas funções com seriedade, ombro a ombro, teremos os resultados possíveis e um futuro promissor.
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado