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Amai os vossos inimigos

“Amais os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. (…)”

Estas sãs as palavras de Jesus Cristo, trazidas nos registros do seu Evangelho, que calam em nós profunda meditação.
 
Na primeira leitura a idéia nos parece contraditória, contrária ao instinto de conservação e avessa ao cultivo da auto-imagem e do amor-próprio, que é marca ainda de nosso estágio evolutivo.
 
Se assim for, não haverá mérito em amarmos apenas a quem nos ama, ou a quem dedicamos simpatia. Muitas vezes a nossa pequenez de pensamento faz-nos inimigos, ainda que velados, de quem não nos correspondeu o mesmo sentimento.
 
Partindo do pressuposto que nada no Universo é por acaso, isto é, sempre há uma causa lógica e inteligente, a existência de inimigos em nossas vidas é uma situação em que certamente participamos, na maioria das vezes como protagonistas.
 
A diferença é que a nossa falta de lucidez espiritual não mediu e ainda não mede as causas, muitas vezes em dimensão oculta temporariamente em nossa consciência, que afloram para serem resolvidas.
 
As situações difíceis das relações, e vamos classificá-las grosseiramente como inimigos, decorrem das imperfeições e imaturidade dos envolvidos.
 
Os conflitos, decorrentes de causas diversas, mas principalmente do egoísmo inerente às almas em aprendizado, sempre nos trarão resultados positivos. Tirar dessas situações um fruto nutritivo de luz é uma arte a ser desenvolvida.
 
A condição básica para reconciliarmo-nos com os nossos “inimigos” é aprender a perdoar. Sem o perdão, as barreiras não serão vencidas.
 
O perdão é a chama que derreterá o gelo do ressentimento.
 
O perdão é banho refrigerante que extingue a fogueira do ódio.
 
O perdão é amparo no desespero do arrependimento.
 
Devemos atender à exortação do Cristo: “se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra”?
 
Certamente. Mas fujamos à simplória interpretação literal da frase, pois o Cristo falou, à época, em parábolas e expressões que impressionariam de forma mais eficaz as suas idéias.
 
Obviamente não devemos abdicar do nosso instinto pessoal e coletivo de conservação e imolar-nos inconseqüentemente às vilanias que nos forem praticadas.
A ótica dada pelo Cristo deve ser vista no sentido de não contrapormos improdutivamente a agressão com outra agressão.
O revide, a vingança, o desequilíbrio só farão agravar uma situação de conflito.
 
Bem sabemos nós, quando reconhecemos nossos erros e estamos a receber as explosões dos que foram atingidos, muita vez oferecemos a outra face, em suplício, supondo que somente tal atitude poderá compensar o débito.
 
O perdão exige mais. Exige que nosso coração modifique qualquer idéia negativa e passemos de vítima passiva a benfeitores ativos, ensejando no mínimo autênticos pensamentos construtivos que desejem o bem.
 
Que comece em nós a perda de força do desatino e desagregação, através do desenvolvimento da tolerância e do perdão.
 
Quantas vezes insistimos, em situações de conflito, em fazer prevalecer nossas posições equivocadas (ou mesmo assim amparadas na razão) apenas para satisfazer nosso ego?
 
Comecemos a amar, e principalmente a perdoar, o maior inimigo que possuímos quando não aceitamos o bom caminho: nós mesmos.

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