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Amar, verbo incondicional

Convencionou-se – e, desconfio, com a velada hipocrisia de seus mentores – substituir antigas denominações de enfermidade ou moléstia, de cor ou raça e designação penal por sinônimos ou expressões destituídos, na concepção daqueles pseudoiluminados, de eventual ilação pejorativa. Assim, deficiente físico transformou-se em portador de necessidades especiais, alienado ou débil mental em deficiente mental, a cor negra, poética e intensamente cantada em verso e prosa na música e na literatura brasileiras, ganhou a denominação de afrodescendente, e delinquente juvenil por adolescente infrator.

Em razão disso, ausente, aí sim, a hipocrisia, corroboro o entendimento da Desembargadora Maria Berenice Dias ao emprestar alternativas às denominações homossexualidade e homossexual como homoafetividade e homoafetivo.

A ciência e a doutrina espírita possuem as suas – e diferentes! – razões para explicar a homoafetividade no ser humano, no espírito encarnado. Ambas são concordes, no entanto, em não a caracterizar como moléstia física ou mental, bem como opção do indivíduo. Ninguém é homoafetivo (gay ou lésbica) simplesmente porque assim o deseja.

Na novela Passione, há a personagem de um adolescente bailarino cujo pai – inculto e de poucas letras – renega o filho pela arte escolhida. O jovem sequer demonstra identificação homoafetiva, o “temor” do preconceituoso pai.

Não atribuam, generosos leitores, tal discriminação e preconceito apenas a moradores dos subúrbios e, por conseguinte, às camadas social e economicamente menos favorecidas, como o folhetim global enseja retratar. A “classe alta” é pródiga em semelhante comportamento.

Em que pese hoje – com jurisprudência firmada em nossos tribunais – o reconhecimento ao direito de adoção por casal homoafetivo, assim como o direito do parceiro supérstite de participar na sucessão e benefícios do de cujus na relação homoafetiva, somos extremamente preconceituosos. É indizível o sofrimento dos (das) jovens ante a negativa ou o fechar de olhos da família (pais e mães) ao fundamental diálogo quando, como diria o vulgo, os homoafetivos poderiam, finalmente, “sair do armário” e despertar para a sua realidade.

Não é prova ou missão das mais fáceis, reconhece-se, em aceitar o desmoronamento dos sonhos e projetos que, como pais, fazemos para cada rebento nosso. Porém, acima de nosso orgulho e egoísmo, há de ser consagrado o inalienável direito de cada ser humano buscar a sua felicidade, a sua função dentro de uma sociedade. Essa busca somente pode ser encetada se alicerçada no mais sólido e íntegro sentimento de amor.

Pai: acolhe teus filhos, respeitando a natureza de cada um.

Mãe: abre teus braços de compaixão e amor e permite que aquele ser te revele o que não mais há de ser segredo. Diz, neste momento único de suas vidas, que, em qualquer circunstância, o teu imaculado e acolhedor regaço provará sua razão única de ser, como o fez a Grande Mãe ante o derradeiro sopro do Filho.

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