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Amazônia: o ovo da serpente

Mais do que nunca, tem-se discutido sobre o futuro da floresta amazônica. Em todos os segmentos internacionais – políticos, intelectuais, ambientalistas, universitários e, até mesmo, algumas estrelas globais – tem-se observado, sobretudo para os últimos, com o glamour e as luzes dos holofotes da “Vênus Platinada”, alguma movimentação no sentido de defender, o que se supõe seja nosso(?): a Amazônia brasileira.

Efetivamente, o Brasil possui a maior parte da Amazônia (5,217 milhões de km2), o que significa 1/3 das florestas do mundo, ar e água doce abundantes. Este manancial – o mais rico do planeta no que pertine à biodiversidade (flora, fauna, bacias hidrográficas), o pulmão da Mãe Terra –, está sendo a razão maior das preocupações das Organizações Governamentais e não Governamentais internacionais.

Amplamente divulgados pela mídia mundial e pela Internet, os entendimentos dos governos americano e britânico e, sobretudo, o discurso pronunciado por Al Gore, de que “a Amazônia não pertence somente a um país, mas a todas as nações da Terra”, aos olhos da grande maioria dos brasileiros, afrontaram os brios e os píncaros da soberania do Brasil. Aqueles (entendimentos), se bem analisados, não carregam em si a afronta e a arrogância que ofenderam aos ufanistas tupiniquins de plantão.

O desmatamento sem regras e a conseqüente devastação irreversível desta riqueza natural – que os satélites programados para rastreamento sequer conseguem detectar 30% do ato criminoso –, não é de hoje. O mais antigo dos alfarrábios de história documenta a desenfreada ganância dos homens que por lá aportaram, desde o século XVII, e se transformaram em autênticos mega-magnatas da exploração da madeira, do látex e de todo tesouro que ali florescia ao natural.

Como gerar expectativas de que a propalada “soberania” nacional seja defendida (e com ela a Amazônia brasileira) por um Exército sucateado (o material bélico, os jipes e os blindados são sobras da II Guerra), ou por uma Força Aérea paupérrima em caças e aviões de reconhecimento, contra fuzis e metralhadoras de última geração, manuseados por uma imensa e altamente preparada tropa de elite, regiamente paga a peso de ouro pelos capi, que se disfarçam na pele de um probo e discreto parlamentar brasiliense, ou em benemerente empresário? Isso tudo, sem considerarmos a imensidão geográfica da Amazônia Legal. Ela se estende por nove Estados e ocupa 61% do território brasileiro – sua área equivale à metade do continente europeu e nela cabem 12 países, incluindo Alemanha e França. É sete vezes maior que a França.

Assim, antes que a Nação chore sobre a “soberania devastada”, que o Brasil pranteie sua “soberania desertificada” ou a “soberania de cinzas”, dispamo-nos da infantilizada fantasia de que somos os únicos e privilegiados por Deus.

Meu pai sempre me recomendou: “Se não tens competência, não te estabelece”.

Se o governo brasileiro se mostra contumazmente incompetente, seja, ao menos, humilde. Antes que seja tarde demais, fundamentado nas garantias e nos princípios basilares e pétreos do Direito Internacional, firme perante a ONU um pacto voltado unicamente em defesa da preservação da Amazônia, ante o desmatamento e a devastação criminosa, com a presença maciça e ostensiva de uma força-tarefa multinacional, extremamente bem armada e preparada, garantindo à humanidade, de um lado, a preservação daquele santuário e, de outro, via de conseqüência, a nossa patriótica soberania nacional.

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