Ao entardecer…
Como sempre, a primeira e única palavra que ela pronunciou foi “Theo”… Depois, permitiu-se desenovelar o longo fio das longínquas memórias.
Ao entardecer, o silêncio e a luz esmaecida do sol invernal compõem o pano de fundo das remembranças em que os fracassos estendem suas infindáveis sombras sobre tudo o que foi e nos parece não ter sido: fruto único de nossas próprias escolhas como se despertássemos àquela hora do dia agônico após um longo sono impreciso em sua duração o suficiente para que a Compreensão pudesse absorver a estagnação total daquele transcurso de Tempo de Horas e Dias e Meses e Anos agora congelados em sua essência mas quem sabe encontrassem ainda sua Razão de ser mesmo que o indecifrável e hibernal Sono tenha deixado no Corpo-Alma não há distinção o desconforto de quem se acomodou em posição incômoda é até curioso e agora se faz indispensável o desconforto como se sem ele não houvesse a possibilidade de se encontrar o fundamental equilíbrio para se dar o passo seguinte definitivo inquestionável irrecorrível num torvelinho de sonhos paixões risos prantos encontros desencontros perdas ganhos idas e vindas até quando ninguém sabe e que resultou a Rosa Vermelha sobre pedras no Deserto da própria Memória…
Ela abriu mansamente os seus olhos e nas retinas de minha mãe distingui, ao entardecer, minha própria imagem…