Apesar de tudo, minha mãe era gói* - Sergio Agra - Litoralmania ®
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Apesar de tudo, minha mãe era gói* – Sergio Agra

Apesar de tudo, minha mãe era gói* - Sergio AgraAPESAR DE TUDO, MINHA MÃE ERA GÓI*

Nestes dias da Moderna Era das Trevas, em que nossos corações e mentes são habitados somente pelas sombras das angústias, das incertezas e da falta de rumo de um líder totalmente destemperado, mais preocupado em acobertar eventuais diatribes de sua prole igualmente anárquica, quando o lógico seria sua entrega total no sentido de vislumbrar um rumo definido e definitivo para alcançar, senão o porto seguro, a pequena enseada, onde pudéssemos repousar e nos fortalecer para o bom combate, somos passivos espectadores deste trágico espetáculo.

A imagem que ora vislumbro de nossa Nação ante a inidoneidade governamental me vem da lembrança das cenas finais do antológico filme produzido pelo cineasta Stanley Kubrick, em 1968, “2001, Uma Odisseia no Espaço”. A nave tripulada, cujo destino era Júpiter, totalmente controlada pelo computador HAL 9000, que sofre uma pane e elimina um a um dos seus tripulantes e vaga indefinidamente pelo Espaço Sideral.

Desfaço estepatético pensamento e retorno para “Nada Ortodoxa”, série em cartaz na Netflix. O seriado tem como pano de fundo o cotidiano de uma comunidade judaica ortodoxa em Nova York, suas tradições, seus ritos e, sobretudo a figura dominante e dominadora da ima, a mãe judia, que diariamente interroga o filho varão se consumou o casamento, instruindo-o, pasme-se, de como deve agir para obter êxito na cópula.

Ante outras cenas do filme soltei gargalhadas bucaneiras ao lembrar a minhaima. Ela, minha mãe, viveu a infância e adolescência em Porto Alegre entre as amigas Sophia, Bella, Golda, Freida, Hannah e Rachel, na Rua Thomas Flores e adjacências. Mais do que o Covid19, o da super imaa inoculou ad perpetum.

Mãe de dois filhos homens, super protetora, odiava todas as namoradinhas que por ventura se arriscassem a telefonar ou, mais ousadas, tocassem a campainha de nosso apartamento.

Após meu casamento no religioso houve recepção no City Hotel, que ela, minha ima, havia instruído a meu pai oferecer (ignoro até hoje por que não dançamos a Hoira**, ao som de Hava Nagila).

Por volta das 7 horas da primeira manhã após retornarmos da lua-de-mel, minha mãe telefonou perguntando à então minha mulher se ela já havia me servido o Nescau. A partir dali fora o início da “Guerra dos Cem Anos” entre “Dona Golda G.” e a nora “Rachel C”. Após o término do casamento ambas passaram a desfrutar de uma amizade incondicional.

Minha mãe era uma gói,nunca fora uma ima. Mas se adorava meter os bedelhos na vida dos filhos, ah, nisso ela era uma PHD!

*entre os judeus, indivíduo ou povo que não é de origem judaica.

** momento em que os convidados dançam em círculos separados – as mulheres ao redor da noiva, e os homens em volta do noivo.

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