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Após o sinal, deixe o seu recado – Sergio Agra

Após o sinal, deixe o seu recado - Sergio Agra
Sergio Agra

SERGIO AGRA – Intelectual não vai a praia. Intelectual bebe.

APÓS O SINAL, DEIXE O SEU RECADO…

Se Lupicínio Rodrigues vivo fosse, nesta 2uinta-feira, 7 de marços, eu haveria de lhe fazer uma ligação telefônica para satisfazer meu desejo premente em dele saber: – Aonde exatamente fica o “de trás do mundo”?

Não somente porque ele, Lupicínio (e acredito que o “de trás do mundo” também!), ora se encontra numa outra dimensão na companhia dos noctívagos parceiros das boemias porto-alegrenses, nas mesas dos bares Adelaide’s, Paloma, Batelão, ou Chão de Estrelas, mas porque não seria do feitio do velho Lupi carregar um celular a estorvar-lhe os bolsos repletos de guardanapos de papel com rascunhos de uma melodia ou com a letra de uma canção recém-iniciada.

Imaginemos o seguinte: este tiete, curioso, e até inoportuno, ruma em direção da mesa do boteco onde ele se encontrasse. Lupi me encararia com seu olhar de boi manso e com sua inconfundível voz doce e anasalada, perguntaria baixinho, “Em que te posso servir, parceirinho?”.

Lupicínio não era doçura somente na voz. O era também no tratamento para com os amigos e mesmo para com os “ilustres” desconhecidos que se aprochegassem para ouvi-lo e pedir-lhe uma “canja” de “Esses Moços” ou “Nervos de Aço”.

Nervos de aço! É isso os que de bom senso necessitamos ter ao ligar para alguém que temos em alta estima e consideração, e o celular trilar até cair na caixa postal. Devemos num momento primeiro entender que, de repente, o aparelho esteja no silencioso; que o amigo ou a amiga pode estar numa reunião de trabalho, no bloco cirúrgico, no seu escritório de advocacia, na sua empresa, numa sessãozinha de cinema em horário de expediente (deveras mais prazeroso!), num boteco chinfrim enchendo a cara ou, furtivamente, no aconchego da alcova espelhada de um motel deleitando-se, no mínimo dos mínimos, de “valiosa” companhia. Isso não tem preço!

Não obstante ficou registrada no celular a “chamada não atendida”, o nosso nome e, na ausência deste, o número do nosso telefone.

É exatamente aí que surgem a deseducação, a grosseria, o desinteresse e a pequenez do caráter de quem não nos retorna a chamada. Amigos das férias de nossa infância em Arroio Teixeira, hoje renomado médico anestesista em Santa Maria (inebriou-se nosgases hilariantes dos cifrõe$$ ou a porra subiu-lhe a cabeça, Dr. Baiano?);pessoas não lhe dou nome, nem chuto cachorro morto)a quem durante algum tempo as servimos nas horas em que lhe faltaram parceiros para o programa. Pessoas que as tratamos com elegância, civilidade, cavalheirismo, polidez, urbanidade e com nosso donaire. Brindamos-lhes, sobretudo, com nossa inteligência e cultura geral. Pessoas que até nos dispusemos a torna-las futuras e potenciais amigas, convidando-as (reiteradamente), por vez primeira a adentrar as portas de nossa casa para um happy hour, estreitar laços, trocar informações sobre os meandros de nossa formação universitária e profissional. Pessoas que sequer se dispuseram a informar-nos o novo endereço da empresa, e se o nosso telefone e o whatsapp não foram “sem querer” por elas bloqueados. Pessoas para quem havíamos suprido suas carências de auditório, até o momento em que entenderam defenestrar nosso significado. A hipocrisia, o egoísmo e a ingratidão que as cegaram são pandêmicos nos tempos atuais.

Apesar disso tudo, somos conscientes de nossas qualidades e de nossos tributos: elegância, civilidade, cavalheirismo, polidez, urbanidade, inteligência, cultura e donaire.

Por isso, Lupi, onde fica mesmo o “detrás do mundo”? Para onde, afinal, ela, a

“Felicidade foi se embora
e a saudade no meu peito ainda mora
e é por isso que eu gosto lá de fora
porque sei que a falsidade não vigora.
Lá onde eu moro tem muita mulher bonita
Que usa vestido sem cinta e tem na boca um coração
Cá na cidade se vê tanta falsidade
Que a mulher faz tatuagem até mesmo na pensão
Felicidade foi-se embora
E a saudade no meu peito ainda mora
E é por isso que eu gosto lá de fora
Porque sei que a falsidade não vigora
A minha casa fica lá detrás do mundo
Mas eu vou em um segundo quando começo a cantar
E o pensamento parece uma coisa à toa
Mas como é que a gente voa quando começa a pensar
Felicidade foi se embora
E a saudade no meu peito ainda mora
E é por isso que eu gosto lá de fora
Porque sei que a falsidade não vigora
Na minha casa tem um cavalo tortilho
Que é irmão do que é filho daquele que o Juca tem
Quando eu agarro seus arreiros e lhe encilho
Sou pior que limpa trilho e corro na frente do trem
Felicidade foi se embora
E a saudade no meu peito ainda mora
E é por isso que eu gosto lá de fora
Porque sei que a falsidade não vigora…”.

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