As primeiras estrelas – Jayme José de Oliveira *in memoriam
Muitos conhecem a teoria do Big Bang, o magnífico e explosivo nascimento do nosso Universo. Mas o que aconteceu logo a seguir?
Cerca de 100 milhões de anos de ESCURIDÃO.
Quando as primeiras estrelas se iluminaram, elas eram maiores e mais brilhantes do que as que se seguiram. Sua luz ultravioleta era tão intensa que transformava os átomos ao redor em íons.
O chamado “Amanhecer Cósmico” – que vai do surgimento da primeira estrela até a conclusão dessa “reionização cósmica” – durou cerca de um bilhão de anos.
Os primeiros elementos pesados se formaram nos núcleos de alta pressão das primeiras estrelas: apenas um pouquinho de Lítio e Berílio.
Com a morte de tais estrelas gigantes de vida curta, que entraram em colapso e explodiram em supernovas deslumbrantes, metais pesados como Ferro foram finalmente criados em abundância e espalhados pelo espaço.
A formação de estrelas gigantes sem metal não parou totalmente – pequenas galáxias dessas estrelas deveriam existir em locais onde havia matéria escura suficiente para resfriar nuvens imaculadas de Hidrogênio e Hélio.
No entanto, sem uma enorme atração gravitacional, a intensa radiação das estrelas existentes aquece as nuvens de gás e rasga suas moléculas. Então, na maioria dos casos, o gás livre de metal colapsa inteiramente para formar um único buraco negro supermassivo.
Neste estágio, já temos os primeiros objetos no universo que podem ser chamados de galáxias: uma combinação de matéria escura, gás enriquecido com metal e estrelas.
Essas galáxias são numerosas, mas difíceis de detectar. Elas poderiam nos informar a data exata do término do “Amanhecer Cósmico” – isto é, quando a “reionização cósmica” se completou.
Uma equipe internacional de astrônomos anunciou a descoberta da maior estrutura já encontrada no espaço, um superaglomerado ancestral de galáxias com massa de mais de um milhão de bilhões de vezes a do Sol. Hyperion, como foi batizada, é a maior estrutura já vista nos primeiros 5 bilhões de anos do Universo.
Para compreender isto, precisamos lembrar que há um consenso no meio astronômico de que o Big Bang, ou seja, a explosão fundamental que deu origem ao Universo, ocorreu entre 13,3 bilhões e 13,9 bilhões de anos atrás.
Quando os cientistas miram telescópios para os confins do espaço, eles estão sempre observando o passado – afinal, a luz viaja a uma velocidade de 300 mil quilômetros por segundo e, ao olhar para o céu, o que se vê é a luz emitida pelos astros, sempre com algum grau de “delay”.
Por exemplo: a luz do nosso Sol, que está “perto” – em termos astronômicos -, chega a nós com um atraso de 8 minutos, que é o tempo que a luz demora para percorrer a distância.
No caso de Hyperion, ela está tão distante que a imagem obtida pelos cientistas é um retrato de mais de 11 bilhões de anos atrás – calcula-se que o superaglomerado ancestral de galáxias seja de quando o Universo era um jovem de 2,3 bilhões de anos.
Hyperion recebeu este nome por causa de suas dimensões colossais em referência a um dos titãs da mitologia grega. Em português, é também chamado de Hiperião, Hipérion ou Hiperíon.
Catorze instituição científicas europeias, americanas e asiáticas fizeram parte da pesquisa que culminou na descoberta. Os trabalhos foram liderados pela astrônoma Olga Cucciati, do Instituto Nacional de Astrofísica de Bolonha, Itália, e pelo astrofísico Brian Lemaux, da Universidade da Califórnia.
Eles utilizaram um instrumento chamado VIMOS, do Very Large Telescope do Observatório de Paranal, localizado em uma montanha de 2.635 metros de altura em pleno deserto do Atacama, no norte do Chile.
O Very Large Telescope é o maior telescópio em funcionamento do mundo. Seu espelho principal tem 8,2 metros de diâmetro. Ele é operado pelo European Southern Observatory (ESO), de um centro técnico-científico que fica em Munique, na Alemanha.
O Very Large Telescope é o maior telescópio em funcionamento do mundo — Foto: ESO/BBC
Como olhar para eles é olhar para o passado, os cientistas acreditam que Hyperion é uma estrutura que provavelmente está destinada a se tornar das maiores e mais massivas do universo atualmente.
Sistemas como ele semearam as maiores coleções de galáxias que podemos ver hoje nas proximidades da Terra, como o superaglomerado de Virgem, uma imensa estrutura que contém, entre muitos outros, o Grupo Local, o lar de nossa Via Láctea.
Jayme José de Oliveira