Diagnóstico diferencial é um termo clássico da medicina que indica o conjunto de diferentes doenças que podem ser responsáveis pelo(s) sintoma(s) de um paciente.
Não raro determinado(s) sintoma(s) poderá ser tão comum que, por assim dizer, metade das patologias existentes poderão de algum modo serem responsáveis, isolada ou associadamente.
Além disso, não raro, alguns diagnósticos diferenciais (doenças consideradas) podem ser apenas nomes diferentes dados a conjuntos de sintomas quase idênticos, havendo ou não uma base sólida para considerá-las realmente distintas – como por exemplo, estudos de prognósticos psicológicos, sociais, econômicos e de resposta aos tratamentos, ou de endo-marcadores (sinais físicos, exames laboratoriais, etc).
O campo do autismo é um campo em revolução, e os conceitos e termos empregados variam inclusive em obediência a disputas políticas ou administrativas, que escapam de longe ao interesse científico, médico, neuro-psiquiátrico propriamente dito.
Sem tentarmos substituir em poucas palavras um 1-2 anos de curso de especialização e mais outros tantos de experiência clínica, devemos ao menos reconhecer que as inabilidades sociais e interpessoais observadas em pessoas de quem se suspeita do diagnóstico de autismo, podem sofrer, em seu lugar, de problemas bastante distintos, com dificuldades. sociais semelhantes, como por exemplo: síndrome de Rett (deterioro progressivo em meninas, parada no crescimento da cabeça, perda de habilidades ideo-motoras, que se inicia entre 1-5anos de idade), Asperger (que preserva o desenvolvimento intelectual), Distúrbios da Capacidade de Comunicação, complicações sociais da Deficiência Intelectual (retardo mental), Distúrbio da Atenção e Hiperatividade, Psicoses (convicções absurdas, percepções irreais – vozes, visões, etc), Mutismo seletivo (“não fala quando não quer”), Transtorno Desintegrativo da Infância (sintomas que se iniciam após 2-4 anos de desenvolvimento normal, e seguem um curso de demenciação precocecíssima, com perdas progressivas de habilidades sociais e intelectuais). Sintomas comumente atribuídos ao autismo, podem ser ainda pré-mórbidos a uma esquizofrenia (prodrômicos), fobia social, ansiedade generalizada, fobias simples; catatonia (atitudes, posturas, movimentos estereotipados e apragmáticos) esquizofrênica, depressiva, medicamentosa ou encefalopática; síndrome de Tourrette (tiques motores e verbais); um Transtorno Obsessivo-Compulsivo; e outras condições.
O uso de escalas poderá servir como um parâmetro para indicar a intensidade de sintomas típicos, para finalidades de direitos sociais e administrativos.
Nenhuma escala, porém, substitui a boa entrevista e a observação aguda, realizada por um profissional qualificado e experiente, na busca das melhores estratégias para o apropriado apoio ao paciente e sua família, e na busca de causas eventualmente removíveis ou modificáveis para os sofrimentos identificados.
O Dr. Sander Fridman é psiquiatra, psicoterapeuta e psiquiatra forense. É Doutor em Psiquiatria pela UFRJ, com estágio Pós-Doutoral em Direito pela UERJ.