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Bocca chiusa

“…Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte…”
Hino Nacional Brasileiro

Nunca mais me será permitido, sem que haja o sentimento de culpa e remorso, erguer a mão direita sobre o coração e, orgulhosamente mirar o lábaro estrelado que tremula ao sabor dos ventos e entoar o nosso Hino brasileiro.

A ida a Porto Alegre de carro tornou-se nos últimos meses autêntica prova de enduro. A cidade, suas ruas e avenidas estão em obras e o trânsito caótico, em face das mudanças de mão ou de artérias interrompidas, tudo em nome da malfadada Copa do Mundo. Na relação custo e beneficia, por ora, é vantajoso viajar de ônibus e, na Capital, deslocar-se de táxi ou de lotação.

Esta é história a ser abordada mais tarde. Hoje vou me penitenciar ante meu silêncio e, quem sabe, o de outros sete, oito passageiros do ônibus da Unesul que seguiam viagem de Porto Alegre para Capão da Canoa, e que puderam também ouvir o “colóquio”.

A irresponsabilidade e o descaso da citada empresa de transporte – há muito sabedora de que o trânsito, já caótico, multiplica-se geometricamente na hora do pico – fez com que o coletivo estacionasse no “box” com vinte e cinco minutos de atraso.

Em plena autoestrada, eis que toca um celular. A voz masculina que o atende denotava, ainda que arrevesadamente, as palavras em português, no entanto, com sotaque de alguém estrangeiro que, de imediato, não pude identificar a origem.

O dito senhor – prefiro assim o chamá-lo, pois poderia dizer tratar-se de indivíduo, elemento, ou coisa que o valha, como ainda adjetivá-lo por um qualificativo que seus patrícios são pródigos em “premiar” as cabeças, uns aos outros – em alto e bom som, a pergunta que lhe fora feita pelo interlocutor, responde:

– Estou num ônibus de quinta categoria, que nem água ou cafezinho servem e como em tudo nesta terra de tupiniquins, atrasado em uma hora!

Só não saltei da poltrona porque Guiomar, acomodada ao lado do corredor, impediu qualquer reação minha, pedindo-me que silenciasse.

O dito senhor continuou por um longo tempo em outras trivialidades, até que, ao se despedir, disparou o sonoro “arriverci”!

Na tentativa de mostrar ao “cavalheiro” que não somos tão tupiniquins o quanto ele assim o desejasse resmunguei um si non te piace perchè non torna a stu paese?
Ignoro se, efetivamente, se tratava de um italiano, com cidadania ou não brasileira, ou de um ítalo-descendente. De qualquer forma, suas chulas e ingratas palavras não advieram de filho, neto, ou bisneto do imigrante que, com a alma repleta de esperanças e vontade inaudita de aqui se estabelecer, trabalhar a terra, criar sua prole, enfim plantar suas raízes. Sonhos estes que se traduziam na canção entoada nas noites de luar no convés do navio:

“Merica, Merica, Merica, donde stara nostra Merica?”

Por esta razão, optei por ficar de boca fechada!

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