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Brasil não tem prazo para deixar Haiti, diz Itamaraty

Um dia antes da Comissão de Relações Exteriores do Senado realizar uma audiência pública para discutir a participação brasileira na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), o Itamaraty deixou claro que, por enquanto, o governo brasileiro não estuda abdicar do comando da missão ou trazer de volta os militares que há cinco anos atuam no país caribenho.

“Como diz o presidente [Luiz Inácio Lula da Silva], o compromisso do Brasil com o Haiti é de longo prazo. Não existe e não pode existir um cronograma pré-determinado [para o fim da missão de paz, tratada, por críticos, como ocupação] porque a situação no terreno tem que ser avaliada à medida em que as questões de segurança e de desenvolvimento evoluem”, disse a chefe da Divisão das Nações Unidas do Ministério das Relações Exteriores, conselheira Gilda Motta Santos Neves.

Questionada sobre as críticas feitas por representantes de movimentos sociais haitianos e de organizações internacionais de direitos humanos, a conselheira reconheceu que as dificuldades para reconstruir o país são grandes e exigem tempo, razão pela qual parte da população tende a se impacientar, o que, para ela, é natural. Gilda Motta, no entanto, afirmou não ter presenciado hostilidade contra os militares brasileiros na viagem de dois dias que fez ao Haiti.

“É um trabalho gigantesco, nada que possa ser realizado da noite para o dia. É lógico que a população vai ficando impaciente. Além disso, sempre haverá gente que instrumentalize a crítica à Minustah com um objetivo político interno”, afirmou a conselheira. “Em qualquer regime democrático, sempre haverá posições favoráveis e outras contrárias a qualquer assunto. Estamos lá a pedido do governo haitiano e com mandado do Conselho de Segurança da ONU”, disse.

Para os que criticam a permanência das tropas da ONU, que este mês completam cinco anos no país, a ação de militares estrangeiros sob o comando do Brasil tem agravado a situação de extrema miséria e repressão em que vive a população haitiana, em um país arrasado por quase um século de instabilidade política.

Três ativistas haitianos chegaram ao Brasil na madrugada de hoje (16). Eles vão participar da audiência pública que o Senado realiza amanhã (17), a partir das 10 horas. Segundo a nota divulgada pela entidade sindical Conlutas, Carole Pierre Paul-Jacob, dirigente da organização Solidariedade das Mulheres Haitianas (Sofa), Frantz Dupuche, da Plataforma Haitiana em Defesa de um Desenvolvimento Alternativo (Papda) e Didier Dominique, da Central Sindical, “estão no país para reforçar a campanha internacional pela retirada das tropas da ONU do Haiti e denunciar a carência, a extrema pobreza e a falta de soberania em que vivem os haitianos”.

“Lógico que há problemas, descontentamentos de vários segmentos e muitos interesses localizados, mas o país também tem uma espécie de tradição de instrumentalizar certos grupos insatisfeitos, pequenos grupos que são instigados por outros grupos maiores com outros interesses”, disse o chefe da Divisão do Caribe do ministério, Ricardo Peixoto.

Durante a conversa com os jornalistas, os representantes do MRE destacaram a preocupação brasileira com o desenvolvimento social e com a segurança alimentar haitiana. Além disso, afirmaram que, só em 2008, o país investiu R$ 30 milhões em ações de assistência humanitária. Mais de 15 mil toneladas de arroz e 400 toneladas de leite em pó foram doadas à população.

No âmbito das relações bilaterais, o Brasil planeja ajudar a instalar pelo menos cem cisternas, além de construir um centro de capacitação profissional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), orçado em US$ 5 milhões; um centro de treinamento profissional e um restaurante escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), estimado em US$ 3 milhões e cozinhas centrais para a produção e distribuição de merendas escolares.

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