Colunistas

Buraco negro – Jayme José de Oliveira

Buraco negro - Jayme José de Oliveira
Jayme José de Oliveira

No apêndice do livro “Vozes de Tchernóbil” de Svetlana Aleksióvitch, Prêmio Nobel de Literatura 2015, a autora reproduz um tabuleta afixada à porta dum cemitério: “ALTA RADIAÇÃO, PROIBIDO ENTRAR A PÉ OU DE CARRO”. Nele jazem os corpos dos que lacraram a usina de Tchermóbil, incendiada em 26/04/1986,ocasião em que lançou imensa quantidade de partículas radioativas sobre a URSS e boa parte da Europa. O livro é um libelo contra os que tentaram, inutilmente, abafar a catástrofe. “A ciência era conduzida pela política, a medicina estava amarrada à política”.

No mundo em geral e no Brasil em particular as decisões políticas equivocadas – para dizer pouco – também resultaram em catástrofes. Segundo Flávio Tavares: “O mal não está na política, o mal está naqueles que transformaram os partidos brasileiros em cabides de negócios”; “o significado da política passou a ser tratar bem as pessoas para conseguir votos. A classe política corre o risco de se transformar em coveira da democracia”.

Tanto a direita como a esquerda querem mudar o mundo. Para conseguir é necessário que, mesmo sendo adversários, dialoguem em busca de soluções. Infelizmente, hoje, a política partidária busca se acomodar em termos pessoais. Faça-se qualquer coligação, mesmo com adversários imexíveis. Tenta-se, inutilmente, misturar água com óleo na expectativa de que se tornem um corpo homogêneo. Impossível.

As autoridades não são uma gangue de criminosos. Não, elas são antes de tudo, uma combinação letal de ganância e corporativismo. O princípio de vida deles, adquirido nos meandros dos sindicatos e no submundo dos gabinetes é o poder e suas benesses. Este é o ponto. Negociam-se promoções e as regras do jogo são: se você não agradar seus superiores, não ascenderá no cargo, não compartilharás os dividendos – de prestígio e monetários. Continuamos sendo um “governo de coalizão”. O poder e os benefícios monetários são as prioridades. Não a pátria e o povo. Todos aguardam a chamada telefônica, ninguém faz nada por conta própria, ninguém assume as responsabilidades. Quanto custou e continua custando ao país? Quantas vidas poderiam ter sido salvas se o dinheiro desviado tivesse sido usado com o destino para o qual foi arrecadado?

As blindagens e os foros especiais são responsáveis pela tranquilidade para esses procederes não republicanos e a convicção que não responderão pelos malfeitos. Isso já é história. História de um crime. Apesar dos pesares eu creio na História. No julgamento da História. A Lava-Jato não terminou, apenas começou.
FATOS QUE DESLUSTRAM:

A defesa do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) quer saber qual o número do telefone que fez a ligação anônima que levou a Polícia Federal (PF) a descobrir o apartamento onde estavam os R$ 51 milhões em espécie, em Salvador, BA, que seriam do político. Quer também a identidade do policial que recebeu o chamado. PARA QUE SERÁ? O advogado Gamil Föppelargumenta que a busca e apreensão foi decretada tendo por base, unicamente, uma denúncia anônima, o que seria ilegal.

A Ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois (PSDB-BA) é aposentada como desembargadora no valor de R$ 30.471,10 e requer receber, cumulativamente, R$ 30.934,70, salário de ministra. Se for atendida, perceberá R$ 61.405,80. Os vencimentos estão limitados constitucionalmente em R$ 33.700,00, equivalentes ao subsídio dos ministros do STF.
Para justificar a solicitação, num arrazoado de 207 páginas escreveu que a situação, “sem sombra de dúvidas” se assemelha ao trabalho escravo, o que é rejeitado peremptoriamente pela legislação brasileira desde os idos de 1888 com a Lei da Abolição da Escravatura. À rádio CBN ressaltou que na condição do cargo de ministra há a necessidade de se apresentar “trajada dignamente”. É cabelo, é roupa, é sapato, é perfume, é alimentação.

– Como vou comer, beber e calçar?

A controvérsia acabou com uma frase nota de sua assessoria na qual Luislinda retirava o pedido.

O caso da ministra não é singular, outras categorias pleiteiam – e recebem – acima do teto, usando os mais diversos subterfúgios. Resta, agora, seguindo o mesmo padrão universalizar o critério. Citemos alguns dos “penduricalhos” vigentes: Auxílio moradia; carros oficiais com motorista; prêmio por produtividade; auxílio-creche; auxílio-educação; auxílio-funeral; reembolso por despesas médicas e odontológicas não cobertas pelo plano-saúde; ajuda de custo para capacitação; retribuição por acúmulo de funções; diárias; passagens aéreas; verba de representação; gratificação por exercício de cargo em locais de difícil acesso; etc.

A magistratura está requerendo, para 2018 um aumento de 5,33%, mesmo que seja aprovado projeto de bloqueio dos reajustes de vencimentos. Funcionários, não satisfeitos com o índice pleiteiam 20%.

O ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho é um dos petistas mais próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ex-ministro do Trabalho e da Previdência, o ex-prefeito alçado ao posto de pré-candidato ao governo de São Paulo afirmou ao jornal Estado de São Pauloque o PT tem de rever para as eleições de 2018 a proibição de alianças com os partidos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff. Para “RECUPERAR A MAIORIA DO POVO BRASILEIRO”.

Rompido com o PT desde que derrubou Dilma e mandou o PT para casa, o PMDB decidiu que o divórcio já não é mais necessário. O comando nacional do PMDB autorizou novos casamentos com o PT, tudo com vistas às eleições do ano que vem. A ordem partiu do senador Romero Jucá.

Quando uma categoria como o judiciário se considera descompromissada com a situação calamitosa da economia e requer reposições salariais diferenciadas e indevidas; quando ministra se considera merecedora de acumular aposentadoria com vencimentos acima do teto legal; quando ex-ministro pego com a “boca na botija” exige ações contra patriotas que denunciam suas falcatruas; quando partidos, com fins exclusivamente eleitorais desconsideram as coligações espúrias para, oportunisticamente, contribuir para defenestrar ex-aliados e, na primeira oportunidade reatam as relações como se nada houvesse ocorrido… cria-se um BURACO NEGRO que engolfa tudo e todos, principalmente a honorabilidade do sistema. Para desespero da população indefesa, à mercê de tanta promiscuidade e desfaçatez.

Podemos relembrar as Catilinárias de Cícero: “Quousque tandem abutere patientia mostra?” (Até quando abusarás da nossa paciência?)

Buraco negro - Jayme José de OliveiraJayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

Comentários

Comentários