Câncer e exposição a toxina na infância; estudo revela ligação

Câncer colorretal precoce e exposição a toxina na infância: estudo revela ligação entre bactéria intestinal e exposição a toxina na infância, de acordo com estudo internacional com participação brasileira. Câncer…
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Foto: IA

Câncer colorretal precoce e exposição a toxina na infância: estudo revela ligação entre bactéria intestinal e exposição a toxina na infância, de acordo com estudo internacional com participação brasileira.

Câncer colorretal precoce pode ter origem ainda na infância devido à exposição a uma toxina liberada por uma bactéria intestinal comum.

Um estudo de escala global, publicado na renomada revista científica Nature, identificou mutações genéticas associadas à colibactina, substância tóxica produzida por cepas agressivas da bactéria Escherichia coli (E.coli), como possível fator de risco para o desenvolvimento do câncer de intestino antes dos 50 anos.

A pesquisa contou com a colaboração de instituições brasileiras de referência, como o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), o Hospital do Câncer de Barretos, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) e o AC Camargo Cancer Center.

Os cientistas detectaram uma assinatura mutacional específica provocada pela colibactina em amostras de tumores colorretais removidos de pacientes com menos de 40 anos.

Essa marca genética apareceu com frequência três vezes maior nesse grupo quando comparada a tumores de pessoas com mais de 70 anos, sugerindo que a toxina pode exercer influência carcinogênica desde a infância — possivelmente antes dos 10 anos de idade.

Apesar de o estudo não comprovar de forma definitiva que a colibactina seja a causa direta do câncer colorretal precoce, os resultados são suficientemente contundentes para apontá-la como um fator de risco relevante.

A descoberta abre caminho para novas estratégias preventivas, incluindo o controle de infecções causadas por E.coli e a mitigação dos efeitos dessa toxina intestinal.

O trabalho faz parte da iniciativa internacional Mutographs of Cancer: Discovering the Causes of Cancer through Mutational Signatures, que investiga as assinaturas mutacionais deixadas no DNA por diferentes fatores ambientais e hereditários que podem estar por trás de diversos tipos de câncer.

O HCPA, que já participou de análises relacionadas ao câncer renal em 400 pacientes do Hospital de Clínicas, agora contribui para desvendar os mecanismos por trás do aumento alarmante dos casos de câncer intestinal em adultos jovens.

Uma das autoras da pesquisa, a professora e pesquisadora do HCPA Patrícia Ashton-Prolla afirma que a descoberta pode resultar em novas recomendações no tratamento das infecções intestinais na primeira infância.

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Prolla destaca que além da contribuição para avançar no conhecimento, a participação do HCPA em grandes consórcios internacionais de pesquisa traz outros benefícios.

“No caso do projeto Mutographs of cancer, nossa participação contribuiu para a formação de recursos humanos, a consolidação do biobanco institucional de pesquisa e para solidificar parcerias com outras instituições”, afirma.

A professora do Serviço de Patologia Francine Hehn e o professor do Serviço de Coloproctologia Daniel Damin também são autores do estudo, que analisou 981 tumores de pacientes de 11 países das Américas, Ásia e Europa.

Foram 159 amostras coletadas em pacientes no Brasil, com participação do HCPA.

Câncer colorretal precoce

Nos últimos 20 anos, a taxa de incidência de câncer colorretal em pessoas com menos de 50 anos dobrou a cada década em 27 países, segundo os pesquisadores. Isso reforça a urgência de compreender melhor os fatores que levam ao surgimento da doença em faixas etárias que antes não estavam no grupo de risco.

Além da possível influência da colibactina, já se sabia que o câncer colorretal precoce está associado a uma série de fatores de risco, como obesidade, dieta rica em alimentos ultraprocessados, sedentarismo e predisposição genética.

Estima-se que mais da metade dos casos de câncer de intestino poderiam ser evitados com mudanças de comportamento e medidas preventivas adequadas.

Diante desses dados, os especialistas ressaltam a importância de políticas públicas voltadas à promoção da saúde intestinal desde os primeiros anos de vida.

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Investimentos em saneamento, alimentação saudável e educação sanitária podem ser fundamentais para reduzir a exposição à E.coli e, consequentemente, à colibactina, diminuindo o risco de desenvolver o câncer colorretal precocemente.

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