Centro da Cidadania integra crianças, jovens e idosos em SAP
Sorrisos, gargalhadas, brincadeiras, aprendizado, desinibição e convívio. Esses são os principais pontos trabalhados no Centro da Cidadania, em Santo Antônio da Patrulha. Lá, reúnem-se turmas do projeto Pé Quente, com crianças de sete a dez anos e jovens de 11 a 16 anos, que freqüentam o Centro no turno inverso ao escolar. Além deles, há os idosos participantes do projeto Viver Melhor.
Todos participam de atividades que englobam trabalhos manuais como pintura, desenho, tricot, crochet, biscuit entre outros. E, como resultado de tudo isso, belos quadros, bolsas, mantas, colchas, caixinhas, toalhas e mais uma infinidade de acessórios que podem embelezar residências ou ser utilizados no dia-a-dia.
Além disso, atividades físicas também fazem parte do cronograma em que todos, sem distinção de idade, participam. Para as crianças e os jovens, elas são mais intensas: futebol, corrida, recreação e tudo que relacionar movimento e esportes. Já os que possuem idade mais avançada, fazem alongamentos e exercícios leves, que, segundo eles mesmos, ajudam a melhorar a saúde cardiovascular, assim como a postura e a disposição.
Fazem, ainda, parte do cronograma de atividades do Centro da Cidadania, aulas de teatro, dança e música. Para os dois primeiros, se formaram turmas com aqueles que possuíam mais pré-disposição a determinadas atividades. “Antes todos tinham que participar de tudo. Àqueles que não gostavam de dança, por exemplo, acabavam bagunçando um pouco a aula. Agora, só participam desta oficina, quem realmente gosta e quer, inclusive, seguir carreira”, explica a professora de dança Clarissa Rosa da Rocha. Já na aula de música, os alunos aprendem o nome dos instrumentos e como tocá-los. Recebem aulas teóricas e práticas, havendo sempre o envolvimento e a interação entre os alunos e o professor Jorge Foques.
As coreografias, assim como peças teatrais e musicais, são apresentadas em eventos, como será o caso da 21ª Festa Nacional da Cachaça, Sonho, Rapadura e Arroz, que acontece de oito a 12 de agosto, em Santo Antônio da Patrulha. No mesmo festejo, as “artes” de todos serão expostas no estande do Centro da Cidadania.
O Centro da Cidadania é coordenado pelo Departamento Municipal de Assistência Social, vinculado a secretaria de saúde. Contudo, existe a parceria com as secretarias municipais de Educação, Cultura, Desporto e Turismo, Planejamento e Captação de Recursos, além do Departamento Municipal de Meio Ambiente. “Também pretendemos buscar parcerias com empresas e outras entidades”, ressalta o Prefeito Municipal, Daiçon Maciel da Silva, informando que a Petrobras já apóia o projeto. De acordo com ele o Projeto Pé Quente 2007 integra a Rede de Proteção a Criança e ao Adolescente. “O diferencial do Pé Quente, é que todos os inscritos precisam estar matriculados na rede de ensino municipal ou estadual”, enfatiza Daiçon.
O Projeto Pé Quente tem como intuito oportunizar atividades que promovam o desenvolvimento dos aspectos psicomotores, cognitivos, afetivos, individuais e sociais para a formação integral dos participantes. Fazem, ainda, parte do projeto complementar a educação escolar e familiar.
A estrutura foi inaugurada em dezembro de 2006 e conta com uma ampla área projetada especialmente para desenvolver as atividades propostas no projeto inicial. Dessa forma, conta atualmente com cozinha, refeitório, mini-auditório, duas salas de atividades, despensa, banheiros e sala de coordenação.
DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA
O Centro da Cidadania está localizado no bairro Cidade Alta. O local tem seu funcionamento de segunda à sexta-feira, nos turnos da manhã e tarde.
Atualmente, existem 150 vagas para o projeto Pé Quente, já ocupados. Quanto ao Viver Melhor, são 80 vagas, sendo que apenas 40 estão ocupadas. Assim, os idosos com mais de 60 anos que desejem conviver com pessoas de sua idade, participando de diversas atividades e eventos, têm a oportunidade se matricular no Centro da Cidadania.
NO RITMO DA CIDADANIA
Com um largo e luminoso sorriso no rosto o pequeno Douglas dos Santos Rosa, de apenas sete anos, garante que o que mais gosta de fazer no Centro da Cidadania é cantar e tocar instrumentos. Mas logo ele volta atrás e diz que também adora fazer artes como pintura e desenho. “Eu gosto de tudo aqui”, salienta o garoto, sendo acompanhado em coro por seus colegas da turma B1 (com crianças de seis a dez anos de idade): “Gostamos de tudo!”.
E é absolutamente impressionante como realmente eles gostam e participam com disposição de todas as atividades propostas e planejadas pelos professores do Centro da Cidadania, sempre sorrindo. Já no primeiro dia de aula da semana, enquanto os mais velhos da turma B2 fazem à educação física no Ginásio de Esportes Caetano Tedesco, eles entram no mini-auditório para ensaiar.
A NOVA CASA
A coordenadora do Centro da Cidadania, Daniela Muniz dos Reis, conta que quando receberam a notícia de que iriam ganhar uma nova “casa” para os projetos, todos ficaram extremamente felizes. Os professores logo começaram a criar uma decoração, e os alunos se empolgaram com a idéia. “Báh, vamos ganhar uma nova casa. Temos que fazer os enfeites para ela”, diziam eles, segundo Daniela.
“Com a nova estrutura, as atividades puderam ser melhor trabalhadas e planejadas”, explica a coordenadora. Antes, o Centro da Cidadania estava sediado na escola Barão do Cahy, com apenas duas salas de aula.
MÚSICA, RITMO E DESINIBIÇÃO
O professor Jorge Foques utiliza diversas técnicas para trabalhar a desinibição das crianças durante a oficina de ritmo e musicalização. Certas vezes leva uma câmera filmadora e grava os ensaios. No final da aula os alunos têm a oportunidade de analisar o seu desempenho, na televisão existente no mini-auditório. Dessa forma, segundo o professor, eles percebem onde estão errando e, aos poucos, se acostumam a ficar frente às câmeras. “Logo que comecei a dar aula era muito difícil fazê-los pegar o instrumento e tentar tocar. Havia certa resistência. Mas, quando o primeiro resolveu se aventurar com algum dos instrumentos, os demais perderam a timidez e hoje participam ativamente das aulas”, comemora Foques.
Durante as aulas os alunos cantam, tocam instrumentos de percussão e, certas vezes, podem votar em quais foram os melhores. Através desse método o professor Foques busca, não apenas a educação musical, mas, inclusive, ensinar a democracia e outros valores sociais.
“Não exijo muita perfeição musical ou rítmica dos menores. Para eles, o mais importante é o contato com os instrumentos e, principalmente, perder a timidez e se integrar com os colegas. Já nas turmas A2 e B2 (de dez a 16 anos de idade) começamos a identificar aqueles que têm dom para a música. E, aí eles são mais cobrados musicalmente”, explica Jorge Foques.
O PRIMEIRO CD ESTÁ A CAMINHO
Os ensaios nem sempre acontecem em sala de aula. Certas vezes todos vão para o pátio do Centro, ensaiar a céu aberto. Afinal, as apresentações acontecem em diversos lugares. Há, inclusive, a intenção de inscrever os alunos do Centro da Cidadania para a Moenda da Canção. “Como neste ano não serão apresentadas músicas e sim musicais, iremos tentar inscrever a gurizada. Seria muito legal, além de ser uma vitrine tanto para eles, quanto para o trabalho que é realizado”, conta o professor de música Jorge Foques.
Além disso, um CD já está em produção. Foques explica que a maior parte dos instrumentos tocados, bem como as vozes são dos alunos. Ele pretende lançar o disco até o mês de novembro.
ESPORTE, SAÚDE, RESPONSABILIDADE E INTERAÇÃO
As aulas do professor de educação física Miguel Ângelo de Carli nem sempre compostas de apenas atividades esportivas. Um pouco de atualidade e informação também fazem parte da proposta dele. “Quem é que sabe o evento esportivo que vai acontecer neste mês lá no Rio de Janeiro?”, pergunta ele. “Copa América”, responde um dos alunos. “Não, essa é na Venezuela”, corrige Miguel. “Ah, é o Pan”, diz outro garoto. “Isso! Mas Pan, o quê?”, insiste o professor. “Panamericano de esportes”, completa outro aluno. E, assim, a aula segue com cada um dizendo os esportes que farão parte do Pan 2007. A atividade posterior é desenhar alguma dessas modalidades.
Os pequenos recebem, ainda, uma dose de responsabilidade. Antes de começarem a desenhar, cada um recebe uma folha em branco, régua, lápis preto e lápis de cor. E, em cada mesa, uma das crianças fica responsável pelo material utilizado por ela e pelos demais colegas. “Assim elas aprendem a não estragar o material e, ainda, corrigem os colegas que não têm essa consciência”, conclui o professor.
Só depois disso tudo é que os guris e gurias vão para o pátio fazer as atividades físicas. Batem corrida e tentam o tempo todo melhorar o seu desempenho, estimulados por Miguel.
MELHOR IDADE COM NOVO ÃNIMO
Um grupo formado de amigas. Assim é o Projeto Viver Melhor. Ele reúne senhoras que já estão na Melhor Idade e busca renovar o ânimo, muitas vezes esquecido por elas. A grande maioria descobriu o projeto através de alguma conhecida, as “comadres” como gostam de dizer.
Assim, aconteceu com a Elza Cunha, de 64 anos, desde 2003 participando do projeto. Quem a incentivou a participar, foi sua tia Judite, de 73 anos. Ela foi a primeira a entrar no Viver Melhor e diz não pretender sair dele.
Por outro lado, as irmãs Vilma da Silveira Lisboa, de 77 anos, e Alvida Lisboa de Oliveira, de 84 anos, são as mais novas na turma. “Tô achando muito bom. Faz uma semana que cheguei e a depressão está indo embora”, comemora Alvida.
No Viver Melhor, os idosos participam nas quartas e sextas-feiras, de Oficina de Movimentos Livres e Artes. Na primeira, a professora Clarissa Rosa da Rocha passa alongamentos e exercícios de baixa intensidade. E, nas artes, a professora Marina da Silveira Castilhos propõe atividades manuais a todos.
Na sala de aula, as senhoras são divididas em grupos. Cada um realiza uma prática diferente com todas interagindo e ajudando umas as outras. O convívio entre elas é sempre muito bom. “Quantas amigas a gente tem, e muitas vezes não consegue visitar. Agora nos encontramos aqui no Centro da Cidadania”, ressalta Elza, completando: “Antes, eu ficava o dia todo dentro de casa, sozinha. Até, o meu marido, Sérgio Gomes da Cunha, achou bom eu vir pra cá. Assim, quando chego em casa tenho sempre um assunto novo pra contar”.
Outra veterana do Projeto Viver Melhor é Terezinha da Silva Alves, de 63 anos, que a três participa. “Sofria de problemas de pressão e depois que vim pro projeto, nunca mais senti nada. Acho que o problema que tinha era por causa do sistema nervoso. Aqui as instrutoras e a coordenadora são super legais, considero como mães compreensivas e amigas”, enfatiza Terezinha. “Eu aprendi coisas que nunca esperava aprender e aprendi aqui”, completa.
“Chega o dia de vim pra cá e eu fico toda empolgada, louca pra chegar a hora. Aqui ninguém fala de doença. Damos boas risadas, todo mundo é faceiro. E quando toca alguma música já saio dançando”, conta Eva Antônia Silva Borges, de 67 anos. Ela também tinha problemas cardíacos que estavam se agravando com a depressão. Segundo ela, até o seu médico ficou surpreso com sua recuperação.Além das atividades manuais, os exercícios também têm seus fãs. “Adoro a ginástica. Tudo tá ficando cada vez melhor”, conta Luiza Silveira, de 78 anos.