Choram Marias e Clarices, choram Joões e Josés
CHORAM MARIAS E CLARICES, CHORAM JOÕES E JOSÉS
(Quem diria, tudo começou com um lúdico exercício…)
Tudo começou com a inevitabilidade de escrever (algo que me é muito mais viciante e com o irrevogável poder de servidão do que o consumo de crack, de heroína, de cocaína e do violino).No entanto, não são todos os momentos em que a Deusa hinduísta Saraswati, a protetora dos artesãos, pintores, músicos, atores, escritores e artistas em geral dispõe-se a emprestar valiosa intuição. Assim, quando ela, generosa, me visita, me concedo ao deleite deste exercício lúdico –por que não? –, desta “catarse” criativa: o texto poético.
Em RHAPSODIA AD BRASILIAexponho toda minha indignação com o longo e trevoso momento da História do Brasil, em que a egrégora da Nação se mostra de um plúmbeo aterrador como as turbulentas águas do Aqueronte, o rio que delimita o Inferno, e que nenhum ser vivo o atravessa incólume.
Ei-lo:
A cintilação da tarde terminal sucumbe às sombras primeiras da noite.
Os botequins e os rendez-vousacolhem os bêbados, os poetas,
os libertinos, tementes ao açoite
do amor então sublimado.
Os “luminares” da Ilha da Fantasia apontam a solução
antropofágica para a erradicação
das abjeta corrupção,
da pobreza e da fome no Brasil
(resignemo-nos, contemos até mil!!!),
porquenão lhes convém dar fim à tamanha perversão,
decretando a triste sina
da prostituta inda menina,
do policial, do público funcionário,
da professora, de cada concubina.
Contemplam, complacentes,
as supremas “Excrecências
o deboche e o lucro extraordinário
do banqueiro estelionatário
e do corruptor empresário.
Odebrecht, Camargo Correa, Queiroz Galvão,
Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, OAS,
meu Deus, que País é este
ondelivre é a concussão?,
na Câmara, com Eduardo Cunha e os torpedeiros,
como Senado, em cima do muro,
Collor e Renan Calheiros,
na trincheira trevosa Michel Temer,
ratazana silenciosa, fez tremer
adelirante Dilma Rousseff.
Atrás das grades, mais do que justo!,
Zé Dirceu traz em si o arcaico,
venenoso guerrilheiro.
João Vacari Neto, Alberto Yousseff,
de doleiro a trambiqueiro.
Sem esquecer Marcelo Odebrecht,
Dario de Queiroz Galvão,
também outros como Pedro Barusco,
Jorge Luiz Zelada.
Paulo Roberto Costa e João Vacari Neto.
entraram todos na gelada
com o casal de marqueteiros
Mônica Regina e João Santana.
Que inveja está Ali Babá,
Eles são mais de quatrocentos,
Até o molusco, capo do tutti i capi,
foi “fisgado” no Paraná.
Por aqui Eduardo Leite,
como prêmio de consolação
e da herança do gringo Sartori.
“acaricia” o injustiçado,
– cinco anos sem ser reajustado –
com a devida prestação,
no salário há muito defasado,
fruto do estupro arquitetado
pela incompetência e maldade,
inquestionável monstruosidade,
de quem se vendeu à dúbia privatização,
de quem subserviente se “ajoelhou”
à prepotência e desfaçatez
dos privilegiados Poderes.
Casas e arranha-céus flambados,
janelas de algodões-doces: um traficante de tocaia;
um sequestrador nos telhados.
Cortes, cicatrizes, sulco de arados.
O Theatro vomita na Praça a plateia da última sessão.
Desce o pano. Eu, The clown,
transfiguro-me em marginal:
vago sem rumo para (des)nutrir
uma plateia que não ri, não chora, não esboça um sinal de vida sequer. Silêncio no proscênio. Amanhã, tudo há de se repetir,
ao toque de um botão no painel central.
Com o Firmamento carente de astros e estrelas,
busco, incessante, a voz suave que embalou meus sonhos
na praia em que a saudade ainda faz morada.
Quero ter os pés-descalços sobre espumas e a areia
a envolver, outra vez, braços e pernas e bocas.
Não desejo me ver sozinho,
a cantar para desertos de pedra e espinho,
surdos, mudos.
O amanhecer corrompe-me as retinas,
resseca-me os lábios, me impõe mudar a realidade.
Não mais só, não mais sem ter aonde ir.
Fazendo-me ler,
fazendo-me ouvir,
fazendo-me sentir,
fazendo-me valer,
exorcizando minhas dores,
que tão velhacos aproveitadores
transformaram em pesadelos e infernos
promessa e juramento
com a destra sobre a Constituição,
a nós, sonhadores sempiternos,
de um Brasil, verdadeira Nação!