COB proíbe transmissão do Pan pela Internet
Comitê do Rio-2007 vai na contramão da história, impõe limites para os sites, veta transmissões ao vivo pelo computador e centraliza distribuição de conteúdo multimídia em seu portal, imitando o COI.
O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e o CO-Rio (Comitê Organizador dos Jogos Pan-Americanos do Rio 2007) anunciaram que os veículos de Internet não terão direito à produção ou transmissão ao vivo de conteúdo próprio que inclua vídeo ou áudio captado em áreas oficiais do evento, que será realizado entre 13 e 29 de julho.
A decisão do CO-Rio vai contra a postura adotada por dirigentes de grandes eventos esportivos (veja o quadro abaixo). Também renega a natureza e o crescimento consistente da Internet, que hoje já é a segunda fonte de informação mais procurada pelos brasileiros segundo o Ibobe/NetRatings.
O diretor de marketing do comitê, Leonardo Gryner, afirma que a medida visa a defender os interesses dos veículos de TV. “A preocupação do CO-Rio é respeitar os contratos de direito de transmissão firmados com as emissoras de TV brasileiras que irão garantir o amplo alcance de público na distribuição de sua produção durante os Jogos.”
Hoje, os detentores dos direitos do Pan-Americano no Brasil são três canais abertos de TV (Band, Globo e Record), três canais por assinatura (BandSports, ESPN-Brasil e SporTV) e três emissoras de rádio (Rádio Bandeirantes, Rádio Itatiaia e Sistema Globo de Rádio). O UOL contatou o COB para comprar os direitos, mas a entidade informou que não haverá comercialização dos mesmos para a Internet. A empresa espanhola ISB (International Sports Broadcasting) é a responsável pela geração dos sinais de transmissão.
Para a Abranet (Associação Brasileira dos Provedores de Acesso), a decisão é inaceitável. “É claro que não conhecemos os contratos que foram feitos para a divulgação do evento ou mesmo dos de patrocínio, que costumam ser muito rígidos, mas isso parece algo absurdo”, afirmou Antonio Tavares, presidente da entidade.
Segundo a diretora de conteúdo do UOL, Márion Strecker, “o COB assume mais uma vez posição anacrônica. Nas últimas Olimpíadas, em 2004, o COB simplesmente se recusou a credenciar jornalistas de Internet. Este ano, quer impedir os veículos online de cobrirem apropriadamente o Pan. Só no Brasil, há mais de 21 milhões de pessoas em seus domicílios acompanhando informações pela Internet . Não faz o menor sentido privar o público de uma cobertura profissional. O próprio público vai tratar de burlar esse anacronismo postando imagens na Internet”.
Atraso de seis horas
Apesar de “reconhecer a Internet como importante meio de comunicação e promoção do esporte” em sua diretriz à imprensa, o CO-Rio impôs fortes restrições: essa mídia não poderá apresentar nenhuma reportagem com imagens da competição, entrevistas exclusivas e até mesmo treinos em locações oficiais.
Para não privar os sites de transmitir ao menos imagens de pódio, linhas de chegada, gols ou disputas de pontos importantes, o CO-Rio afirmou que “buscará atender às suas demandas”. Para o comitê, isso significaria disponibilizar arquivos em seu site “sem custos para reprodução”, mas “desde que seis horas após a realização da competição”. Isso significa que o usuário que planejava dar uma espiada na competição pelo computador foi barrado pela determinação dos organizadores do Pan. De acordo com Gryner, “os sites terão acesso aos resumos de 15 minutos diários com imagens em movimento.”
As seis horas de atraso que a entidade determina para a divulgação das imagens nos portais noticiosos são um “exagero”, na avaliação do presidente da Abranet, principalmente após o efeito YouTube, maior site de compartilhamento de vídeo da Internet.
“Mesmo porque isso não é algo fácil de segurar. No evento, vão aparecer muitos espectadores com seus celulares, suas câmeras digitais que logo poderão entrar num YouTube qualquer e postá-las”, disse Tavares, da Abranet, em referência ao portal que abre espaço para a publicação de vídeos diversos para os internautas.
Na avaliação de Tavares, esse é um tema que deveria “ser colocado em discussão pública”. “Acredito que é uma posição que pode ser mudada, já que a Internet não é feita para ser bloqueada ou limitada”, disse.
Segundo o instituto de pesquisa Ibope/NetRatings, o Brasil possui cerca de 35 milhões de usuários de Internet. Deste total, 14,4 milhões são ativos residenciais ativos (com pelo menos um acesso por mês), o que faz o país ficar na nona colocação no ranking mundial, à frente de Espanha, Rússia, Holanda e Austrália, entre outros. Esse segundo número apresenta um crescimento de 7,3 milhões de pessoas em relação ao mesmo período em 2003, ano da realização do último Pan-Americano, em Santo Domingo, na República Dominicana.
As estatísticas também mostram um aumento significativo, de mais de 100%, na presença da conexão via banda larga (que facilita o acesso a conteúdos multimídia na rede mundial) na vida do internauta domiciliar brasileiro. Se no início de 2004 a proporção de usuários de banda larga contra os de linha discada era de 36,6% para 63,4%, a última medição mostrou 74% contra 26%.
O crescimento acelerado, ainda segundo o instituto, faz que o país ocupe a liderança no índice de tempo de navegação residencial no mundo, com cerca de 20h04 de média mensal em novembro, à frente de França, Japão e Estados Unidos.